Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O setor varejista brasileiro registrou queda das vendas bem acima do esperado em setembro, mostrando dificuldades de recuperação em um ambiente de inflação elevada no país.
Em setembro as vendas varejistas tiveram recuo de 1,3%, na comparação com agosto, quando houve expressiva queda de 4,3% na base mensal.
As duas quedas seguidas se deram depois de o setor atingir em julho a maior alta do ano, com crescimento de 3,1%.
O dado de setembro divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) representou ainda uma queda muito mais intensa do que a esperada em pesquisa da Reuters, de 0,6%.
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, o varejo apontou recuo de 5,5% nas vendas em setembro, também bem mais forte do que expectativa de uma queda de 4,25%.
"O componente que joga o volume para baixo é a inflação. As mercadorias subiram de preço", destacou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. "O crédito de pessoas físicas e jurídicas diminuiu, os juros aumentaram e ainda tem a inflação para influenciar o poder de compra dos consumidores."
Em setembro, a inflação oficial no Brasil foi de 1,16%, já tendo acelerado a 1,25% em outubro na base mensal.
SUPERMERCADOS
Das oito atividades pesquisadas em setembro, seis apresentaram queda no mês. As perdas mais intensas foram verificadas em Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,6%), Móveis e eletrodomésticos (-3,5%) e Combustíveis e lubrificantes (-2,6%).
Mas o maior peso no resultado de setembro foi exercido por Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com queda de 1,5%.
Por outro lado, as vendas de Livros, jornais, revistas e papelaria ficaram estáveis, enquanto as de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos avançaram apenas 0,1%.
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, teve queda de 1,1% nas vendas em setembro. Veículos recuaram 1,7%, enquanto materiais de construção tiveram perda de 1,1%.
Buscando se recuperar do impacto da pandemia de coronavírus, o varejo enfrenta o desemprego e a inflação elevados, e vem apresentando volatilidade em seus resultados, destacou Santos.
Desde fevereiro de 2020, foram três picos negativos (abril de 2020, março de 2021, e setembro de 2021) e pelo menos dois picos de altas (outubro e novembro de 2020 e julho de 2021), segundo o IBGE.
O cenário atual ainda é de elevação dos juros, o que encarece o crédito, com a taxa básica Selic em 7,75% ao ano.
“Não há como expandir gastos e compras com crédito mais caro, renda menor e inflação", completou Santos.