BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central reduziu nesta quarta-feira, por unanimidade, a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para uma nova mínima histórica de 4,50% ao ano, em linha com as expectativas do mercado financeiro.
A Reuters conversou com agentes do mercado, que analisaram o comunicado divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), bem como as perspectivas para 2020:
IVO CHERMONT, ECONOMISTA-CHEFE, QUANTITAS ASSET
"A gente tinha uma opinião que em fevereiro cortaria 25 pontos-base, e acho que ficou muito mais provável isso (com comunicado) do que parecia antes da reunião. As projeções foram o que realmente chamou atenção, muito tranquilas. Isso aumenta muito confiança do call de 4,25% e vou além: acho que o mercado volta a discutir o 4%. O mercado saiu daquele 5%, foi direto discutir aquele 4%. Após estresse do dólar e dos preços da carne, mercado apagou 4% do cenário e ficou entre 4,25% e 4,5%. Acho que uma menor parte do mercado ficará em 4,5%, haverá concentração grande em 4,25%, mas haverá um debate sobre 4%. As projeções permitem esse debate. Acho que pode postergar (fim do ciclo de afrouxamento monetário). Temos call de 4,25%, com mais um corte em fevereiro o debate interno será esse: qual probabilidade é de ir para 4%. Acho que aumentou. É majoritário? Não parece ser, mas acho que aumentou. Você tem um deslocamento de probabilidade para baixo ao longo da curva. Quem tinha 4,5% aumentou probabilidade para 4,25%. Quem possuía 4,25% aumentou para 4%, mesmo sem mudar o call.
JOAQUIM KOKUDAI, GESTOR, JPP CAPITAL
"O BC deixou a porta aberta para mais cortes, mas acho que ele parou. Ele cita cautela, a projeção de inflação para 2021 (3,75%) está na meta, e qualquer decisão de política monetária a partir de agora vai começar a influenciar mais o cenário para 2021. A economia está ganhando tração, e os juros já estão em patamares extremamente baixos, muito abaixo da taxa neutra, então no todo o BC não tem muito incentivo para continuar cortando. Além disso, o BC não citou no comunicado, mas sabe que mais afrouxamento monetário poderia se traduzir em mais pressão no câmbio. E isso traria mais um risco. A inclinação da curva de juros (entre janeiro 2022 e janeiro 2025) deve se reduzir amanhã."
ANNA REIS, ECONOMISTA-CHEFE, GAP ASSET MANAGEMENT
"Este foi o último corte do Copom neste ciclo. As projeções de inflação no cenário híbrido até nos surpreenderam positivamente --esperávamos entre 3,9% e 4%, mas veio 3,7%--, mas o linguajar não nos dá conforto para pensar que o BC vai cortar mais a Selic. O BC não deu forward guidance, diferentemente da última reunião. E temos um cenário mais otimista com a atividade. Ainda teremos algum choque de preços da carne e com a demanda maior de fim de ano, então chegaremos ao ano que vem com atividade mais acelerada e inflação mais alta."
RENAN SILVA, ECONOMISTA, BLUE METRIX ATIVOS
"Acabou se cumprindo o que mercado esperava, com mais um corte de 50 pontos-base, basicamente corroborando ideia de retomada da atividade econômica. O que aconteceu no último mês foi um repique de inflação, com câmbio mais agressivo e também um evento específico, que foi aumento na demanda de carne por parte da China, gerando tensão, um mercado volátil. Contudo, houve a percepção de que a necessidade de retomada do crescimento ainda é prioridade e tem de se considerar que governo, na política fiscal, tem reduzido gastos. Assim, minha visão é que possa haver mais um corte, menor, na faixa de 25 pontos-base, para contrabalançar redução de gastos do governo em 2020. Depois, poderemos chegar a um nível de estabilidade da Selic, talvez mais por mais tempo. Em suma, o ciclo tá chegando ao fim."
JASON VIEIRA, ECONOMISTA-CHEFE, INFINITY ASSET
"Eu acho que ele (comunicado) manteve cautela. Ele deixou a coisa mais baseada em dados, mas eu daria, em termos de probabilidade, 70% de chance de manutenção, 30% de chance de corte de 25 pontos-base (na próxima reunião do Copom, em fevereiro). E a sinalização que dá é que seria um corte mais modesto, e não mais forte. Ele já está dando sinalização de que o processo de afrouxamento monetário está ou no fim ou próximo ao fim... até pelos efeitos defasados de política monetária que ele citou."
(Por Gabriel Ponte e José de Castro)