Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A queda na comercialização de artigos pessoais pressionou com força o setor varejista em setembro, que acelerou as perdas no terceiro trimestre em relação aos dois primeiros em meio à crise de confiança no país em recessão econômica e inflação elevada.
As vendas no varejo recuaram 0,5 por cento em setembro sobre o mês anterior, registrando a maior sequência de taxas negativas ao bater o oitavo mês seguido de perdas, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.
Na comparação com um ano antes houve perda de 6,2 por cento, a leitura mais fraca para o mês na série histórica iniciada em 2000.
Embora os resultados tenham sido melhores do que a expectativa de analistas em pesquisa da Reuters --de queda de 0,75 por cento na comparação mensal e de 7,3 por cento sobre um ano antes--, a fraqueza das vendas é generalizada.
O resultado também levou ao recuo de 3 por cento no terceiro trimestre sobre os três meses anteriores, pior resultado desde o primeiro trimestre de 2003, mostrando que o setor veio perdendo força ao longo do ano após quedas de 2,4 por cento no segundo trimestre e de 2,0 por cento no primeiro na mesma base de comparação.
"Ao longo de 2015 o quadro de piora está se acentuando como mostra a trajetória trimestral. Isso tem a ver com restrição de crédito, renda menor e inflação mais alta", destacou a economista do IBGE Isabella Nunes.
FUNDO DO POÇO
Segundo o IBGE, seis das oito atividades pesquisadas no varejo restrito registraram queda no volume de vendas em setembro em relação ao mês anterior, sendo a de maior magnitude, de 3,8 por cento, em outros artigos de uso pessoal e doméstico.
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, setor com maior peso na estrutura do comércio varejista, foi o único que apresentou ganho, de apenas 0,1 por cento, repetindo a taxa de setembro. A comercialização de móveis e eletrodomésticos ficou estável.
"Os alimentos são essenciais e as pessoas não podem abrir mão. Já a estabilidade de móveis não agrega e não repõe as perdas de 7 meses", completou Isabella.
O varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, teve perdas de 1,5 por cento em setembro sobre o mês anterior, com destaque para a queda de 4,0 por cento em Veículos e motos, partes e peças.
O comércio varejista brasileiro vem enfrentando um ano de confiança do consumidor em mínimas recordes diante da economia em recessão e piora do mercado de trabalho, agravados pela crise política no país.
"A sensação de que estamos chegando no fundo do poço está mais próxima, o que enxergamos é que nos próximos meses que veremos estancamento", avaliou o economista da consultoria Tendências Rodrigo Baggi.
"Existe queda da renda real ao mesmo tempo que há condições de crédito muito negativas, tudo isso capitalizado por um pessimismo quase que sem precedentes", completou.
Para este ano a projeção de economistas na pesquisa Focus do Banco Central já é de contração de 3,10 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e de 1,90 por cento para 2016, destacando a dificuldade de recuperação da economia.