Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - As vendas no comércio varejista brasileiro frustraram as expectativas e apresentaram perdas em outubro, ainda mostrando dificuldades em deslanchar na metade do último trimestre do ano.
Em outubro, as vendas no varejo caíram 0,3% em relação a setembro, resultado que ficou bem aquém da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,2%, depois de alta de 0,5% em setembro.
Agora, o varejo opera 4,4% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 2,0% abaixo do maior nível da série, atingido em outubro do mesmo ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados divulgados nesta quinta-feira mostraram ainda que, na comparação com outubro do ano passado, as vendas tiveram ganho de 0,2%, contra expectativa de avanço de 1,76%..
O setor varejista no Brasil vinha apresentando certa resiliência graças a um mercado de trabalho mais aquecido, mas sem conseguir deslanchar e apresentando números perto de zero diante da pressão da taxa de juros elevada, o que inibe o consumo principalmente de bens mais duráveis.
O Banco Central passou a reduzir a taxa básica de juros, e na véspera voltou a cortá-la em 0,5 ponto percentual, levando a Selic a 11,75%.
"É um comércio com baixo dinamismo, especialmente no segundo semestre. A queda dos juros que não se refletiu no crédito e na renda", destacou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, ressaltando que as variações ficaram muito próximas a zero desde fevereiro, com exceção de março (0,7%), maio (-0,6%) e julho (0,7%).
"A massa de renda e ocupação vem crescendo no mercado de trabalho, e isso poderia dar tração ao consumo, mas não aconteceu. O consumo está sendo protelado para renovar e renegociar dívidas", completou.
Entre as oito atividades pesquisadas, em outubro cinco apresentaram desempenho negativo: Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-5,7%); Tecidos, vestuário e calçados (-1,9%); Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,8%); Combustíveis e lubrificantes (-0,7%) e Móveis e eletrodomésticos (-0,1%).
"A inflação mais alta para alimentos pode explicar em parte a queda de super e hipermercados, mas o que mais explica é a redução da demanda", disse o gerente da pesquisa no IBGE.
Na outra ponta, apresentaram ganhos Livros, jornais, revistas e papelaria (2,8%); Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,4%); e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,2%).
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material, mostrou retração de 0,4% em outubro sobre o mês anterior.
“Tanto a atividade de Veículos, motos, partes e peças (0,3%) como a de Material de construção (2,8%) ficaram no campo positivo em relação a outubro. Porém, a atividade de Atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, que ainda não tem essa abertura divulgada na pesquisa, influenciou negativamente o índice geral”, explicou Santos.