BRASÍLIA (Reuters) - A votação no Senado Federal do projeto que obriga o governo a regulamentar a lei que troca o indexador da dívida de Estados e municípios com a União foi adiada para a semana que vem por falta de quórum.
O governo não tem interesse em regulamentar a mudança no indexador neste momento, temendo um impacto da ordem de aproximadamente 3 bilhões de reais nas contas públicas, segundo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que tem comparecido com frequência ao Congresso Nacional para debater o assunto.
A votação estava prevista para esta terça-feira. Nos últimos dias, Levy vinha tentando construir um acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com as prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro, maiores beneficiadas com a mudança no indexador.
O acordo previa que os entes federados continuariam pagando a parcela atual dos contratos com base no indexador já acordado no passado, mesmo que em juízo, e o governo federal se comprometeria a regulamentar o pagamento pelo novo indexador a partir de fevereiro de 2016. Com isso, o Senado adiaria a votação da matéria.
"Na verdade, tanto as prefeituras e Estados quanto o governo entraram em um entendimento. O que o governo propôs é um entendimento que o dinheiro será restituído no início do próximo ano a Estados e municípios, que terão sua dívida diminuída", explicou o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
"Se há um acordo entre as partes, o Congresso vai ajudar nesse entendimento e vai aprovar um projeto que facilite essa construção que ajuda o governo a passar esse momento de dificuldade e no tempo sinaliza com novos recursos para Estados e municípios que estão endividados."
Mais cedo, numa audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o ministro disse que tinha um compromisso "irrevogável" de regulamentar a lei que altera o indexador da dívida de Estados e municípios com o Tesouro Nacional até 1º de fevereiro de 2016, quando o governo já saberá se terá sido bem-sucedido no ajuste fiscal.
Entre o governo federal e o município do Rio de Janeiro, o acordo já foi fechado, mas por via judicial. Esse mesmo acordo seria estendido a outros entes federados que quisessem aderir a ele. Renan alertou, porém, que esse acordo só terá validade para todos se o Congresso aprovar.
"Eu disse ao ministro Levy que o Senado está preocupado com a qualidade do ajuste (fiscal), não estamos preocupados com o quanto e com o como. É isso que o Senado vai distribuir, distribuir os sacrifícios, é esse o papel do Congresso Nacional", disse Renan a jornalistas após a reunião de líderes.
"O acordo com o Rio é um acordo judicial", disse o presidente do Senado. "Não há uma convalidação do acordo do Rio pelo Parlamento. Só haverá se for aprovado no Parlamento."
Durante uma reunião de coordenação política entre a presidente Dilma Rousseff e alguns ministros nesta terça-feira, o governo deu como certo o acordo para o adiamento da votação do projeto do indexador das dívidas, segundo relato dado à Reuters por um ministro que participou da reunião.
(Por Jeferson Ribeiro; reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)