Madri, 9 fev (EFE).- O juiz Baltasar Garzón, conhecido por suas decisões polêmicas, foi suspenso pela Justiça espanhola nesta quinta-feira por 11 anos acusado de prevaricação.
Segundo de cinco irmãos, filho de um funcionário de posto de gasolina e descendente de uma família de agricultores, Garzón nasceu na localidade de Torres, na província de Jaén (sul da Espanha), no dia 26 de outubro de 1955.
Dois anos depois se formar em direito na Faculdade de Sevilha, ingressou no judiciário e fez seus primeiros trabalhos em diversas cidades da Andaluzia, até que, em janeiro de 1988, chegou ao Tribunal Nacional da Espanha.
Garzón logo começou a deixar sua marca, tornando-se o primeiro juiz espanhol a viajar à França para interrogar membros do grupo terrorista ETA, que foram presos no local.
Em 1993, decidiu entrar na política e foi eleito deputado em Madri pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). Chegou a comandar o Plano Nacional Antidrogas, mas renunciou após dez meses, queixando-se do excesso de corrupção no governo.
Garzón então retornou à magistratura e deu seguimento às investigações dos GAL (Grupos Antiterroristas da Liberação), que praticaram o "terrorismo de Estado" ou "guerra suja" contra o grupo ETA e seus adeptos durante os primeiros anos do Governo socialista, que acabou com a condenação de várias autoridades.
Juiz mais conhecido na Espanha, Garzón ganhou fama internacional em 1998, ao acusar o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, que permaneceu detido por cinco meses no Reino Unido.
A notícia deu esperança às vítimas das ditaduras e transformou o magistrado num símbolo. Em 2002, ele foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz.
Sua firme defesa do princípio da Justiça universal o levou a processar o ex-militar argentino Adolfo Scilingo, que foi condenado na Espanha à mais de mil anos de prisão por crimes contra a humanidade e detenção ilegal durante a ditadura na Argentina.
A fama de Garzón voltou a atravessar fronteiras em 2001, ao ordenar a prisão de vários membros da organização terrorista Al Qaeda e processar Osama bin Laden por utilizar a Espanha como base para a preparação de atentados como os de 11 de setembro.
Dada sua experiência em crimes contra a humanidade e de genocídio, Garzón foi convidado pelo promotor do Tribunal Penal Internacional a ocupar o cargo de assessor no tribunal de Haia, na Holanda. Além disso, desde 2011, o juiz trabalhava na Colômbia como assessor do Governo e da Organização dos Estados Americanos.
A projeção internacional valeu um convite da Universidade de Nova York para desenvolver atividades de ensino e de investigação sobre o terrorismo, o que o motivou a deixar novamente o tribunal para morar nos Estados Unidos entre março de 2005 e julho de 2006.
Em 2010, foi suspenso cautelarmente por duas causas abertas na Corte Suprema: os pagamentos que recebeu do Banco de Santander durante sua estadia em Nova York, pela qual ainda não foi julgado, e por se declarar competente para investigar os crimes do franquismo, caso que está em andamento.
Além dessas duas causas, uma queixa foi emitida contra o magistrado em de fevereiro de 2010 por prevaricação, no que ficou conhecido como "caso Gurtel", um dos maiores escândalos de corrupção política dos últimos anos na Espanha. Foi por essa acusação que Garzón foi condenado nesta quinta-feira. EFE