Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A XP Investimentos reduziu sua estimativa para a contração da economia brasileira neste ano a 4,8%, de uma queda estimada antes de 6,0%, diante da percepção de um impacto menos acentuado da pandemia de coronavírus em praticamente todas as áreas de atividade.
Relatório divulgado nesta sexta-feira mostrou ainda que a perspectiva de recuperação em 2021 melhorou a 3,0%, de 2,5% antes.
"Dados da indústria e varejo vêm apresentando resultados melhores que a expectativa de mercado e isso arrefece expectativas mais negativas para o resto do ano", explicou a XP.
"As expectativas sobre a perda de PIB deste ano são menos negativas do que eram alguns meses atrás, e a recuperação, um pouco mais forte", completou.
Entre os fatores que contribuíram para a revisão está uma queda esperada no segundo trimestre menor que a expectativa inicial, de 8% sobre os três primeiros meses em vez do recuo projetado antes de 13%.
Os estímulos fiscais e monetários --a taxa básica de juros Selic foi reduzida esta semana a 2%-- para famílias e empresas também ajudaram a mitigar a recessão e, de acordo com a XP, a melhora também ocorre do fato de os efeitos da pandemia atuarem de forma heterogênea nos setores.
"Diante do cenário em que os riscos sanitários se dissipem e a confiança dos agentes gradualmente retorne, a política monetária com a Selic em 2,00% ao ano e em terreno estimulativo será capaz de contribuir positivamente para a atividade", destacou a XP, avaliando que parece pouco provável que haja novamente um lockdown ou medidas de distanciamento social mais restritivas nos próximos meses.
A XP calcula que a agropecuária vai praticamente passar incólume pela pandemia do novo coronavírus e deverá crescer 2,6% em 2020 e 2,8% em 2021.
Mas para Indústria e Serviços a XP projeta contrações respectivamente de 5% e 5,2%. Porém destaca que ambos têm condições promissoras de recuperação já a partir do fim de 2020, projetando crescimento de 5,9% da indústria e de 2,2% de serviços em 2021.
Outro fator que colabora para a retomada no Brasil é a demanda agregada, pontuou a XP, já que as medidas de sustentação do emprego formal no país se mostraram bem-sucedidas.
"Os programas do governo de sustentação e preservação de empregos formais têm se mostrado bem-sucedidos. Pelo lado da força de trabalho informal, o programa de auxílio emergencial ...também contribui para uma elevação na massa de renda de uma população com propensão maior a consumir", disse a XP.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, avaliou nesta semana que as indicações são de que o Brasil está se recuperando numa trajetória semelhante ao que chamou de "V da Nike", no formato de uma asa estilizada, o que apontaria para uma recuperação da economia mais lenta do que a representada pela letra V, que indica uma retomada célere, no mesmo ritmo da forte queda anterior.
O governo prevê retração do PIB neste ano de 4,7% mas a pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central, embora venha mostrando melhora das estimativas para a economia, mostra que a expectativa do mercado é de uma contração de 5,6% em 2020, crescendo 3,50% em 2021.