Por Isabel Versiani
BRASÍLIA (Reuters) - O acordo Mercosul-União Europeia põe fim ao isolamento do bloco sul-americano e deve dar novo vigor a outras negociações em curso, como as com Canadá, Coreia e Cingapura, avalia Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e hoje presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Trigo (Abitrigo).
“É um acordo marco na historia do Mercosul, o mais importante assinado até agora. Termina o isolamento do Brasil e do Mercosul depois de 20 anos sem assinar nenhum acordo comercial”, afirmou Barbosa à Reuters.
Para o diplomata, o governo Michel Temer foi responsável por destravar as negociações com a União Europeia, que ficaram em suspenso nos governos de Lula e Dilma, em seu entendimento, por uma questão de protecionismo.
“O mérito do governo Bolsonaro foi ter encontrado um equilíbrio na negociação que permitiu superar os pontos que ainda estavam pendentes”, afirmou Barbosa. Ele acrescentou que os detalhes do acordo ainda não são conhecidos, “mas devem ter havido concessões de lado a lado”.
O hoje ministro da Economia Paulo Guedes chegou a afirmar, antes da posse de Bolsonaro, que o Mercosul não seria uma prioridade do governo. Já no cargo de ministro, Guedes disse que não pretendia tratar o bloco como algo sem relevância.
Guedes acompanhou o presidente em viagem à Argentina no mês passado, quando os dois governos discutiram as negociações com os europeus sobre o bloco, formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Barbosa disse que ainda é preciso aguardar os detalhes do acordo para quantificar o impacto potencial para o Brasil.
Sua estimativa é que o acordo não terá efeito prático antes de cerca de um ano e meio, que seria o tempo necessário para os acordos serem ratificados internamente pelos dois blocos.
Antes da ratificação, os textos terão de ser revisados e a versão final, encaminhada para tradução. Depois, haverá ainda a assinatura do acordo pelos dois governos. No momento, não há ainda um documento público sobre o entendimento político fechado pelos blocos.
Segundo o diplomata, o setor de trigo não será afetado pelo acordo. O Brasil é um importador do produto, mas o principal fornecedor é a Argentina, fonte de mais de 80% das compras. Barbosa afirma que o país nunca importou trigo da União Europeia.