Por Nidal al-Mughrabi
GAZA (Reuters) - Não levou muito tempo depois de a fumaça dos fogos de artifício se dissipar em Gaza para alguns palestinos começarem a questionar se um acordo de união entre suas duas facções mais importantes vingará.
Milhares foram às ruas na noite de quinta para comemorar o pacto firmado entre Fatah e Hamas no Cairo. Alto-falantes tocaram canções nacionalistas enquanto jovens dançavam e se abraçavam acenando com bandeiras palestinas e egípcias.
"Estou feliz, não, sou o mais feliz", disse Ali Metwaly, engenheiro de computação de 30 anos, na manhã seguinte. "Mas ainda estou com medo de que acabe em uma decepção. Meus líderes me ensinaram que podem nos decepcionar com muita facilidade. Espero que não o façam desta vez".
Conforme o acordo de reconciliação, o Hamas entregará o controle administrativo de Gaza, incluindo a passagem de fronteira de Rafah --que no passado foi a principal via de acesso dos dois milhões de palestinos do território ao mundo-- a um governo apoiado pelo partido majoritário Fatah.
Uma década atrás, forças do Hamas tomaram a Faixa de Gaza de forças do Fatah em uma guerra civil breve. Tentativas de mediação anteriores do Egito para reconciliar os dois rivais não proporcionaram resultados duradouros. A mais recente obteve o acordo ainda incerto depois de uma pressão econômica sobre o Hamas.
Analistas disseram que o pacto tem mais chance de vingar do que anteriores, dado o isolamento crescente do Hamas e o reconhecimento de quão difícil é administrar e reconstruir Gaza, cuja economia foi afetada por bloqueios na fronteira e que teve sua infraestrutura arrasada pelas guerras com Israel.
Para Huwaida al-Hadidi, uma mãe de sete filhos que tem 34 anos de idade, o alívio econômico é mais do que bem-vindo. Como cerca de 250 mil outros habitantes do território, seu marido está desempregado. Incapaz de pagar o aluguel, a família está morando em uma barraca desde que foi expulsa por seu locador três dias atrás.
Com o controle das passagens de fronteira de Gaza com Israel e o Egito, a Autoridade Palestina --que é dominada pelo Fatah e exerce um governo limitado na Cisjordânia ocupada-- pode permitir uma movimentação mais livre de pessoas e bens pela divisa.
Ainda segundo o acordo, cerca de 3 mil seguranças do Fatah devem se unir à força policial de Gaza, mas o Hamas continuará sendo a facção palestina armada mais poderosa com seus cerca de 25 mil militantes bem equipados.
Hamas e Fatah também estão debatendo uma data em potencial para eleições presidenciais e legislativas e reformas na Organização pela Libertação da Palestina, responsável pelos esforços de paz há muito estancados com Israel.