(Reuters) - O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia vai dinamizar a economia brasileira como um todo e não deve ser visto apenas pelo lado tarifário, disse nesta sexta-feira o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Em entrevista coletiva em Bruxelas, Araújo disse que o acordo é estratégico para todos os setores da economia do país ao permitir a redução de custos e abrir mercados preferenciais no que ele disse ser o maior mercado importador do mundo.
"Um acordo dessa magnitude não deve ser olhado apenas do lado estático, de tarifa, mas sobretudo sob o ponto de vista dinâmico. Ele mexe com todo o conjunto da economia", disse.
Mercosul e União Europeia assinaram nesta sexta um acordo preliminar de livre comércio, encerrando quase 20 anos de negociações.
De acordo com estimativas do Ministério da Economia, o acordo "representará um incremento do PIB brasileiro de 87,5 bilhões de dólares em 15 anos, podendo chegar a 125 bilhões de dólares se consideradas a redução das barreiras não-tarifárias e o incremento esperado na produtividade total dos fatores de produção".
Na coletiva, as autoridades brasileiras evitaram dar detalhes sobre o acordo sob a alegação de que a íntegra será divulgada pelos envolvidos na negociação neste fim de semana.
Também na entrevista, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, destacou que no acordo os dois lados ganham.
"Não existe acordo em que só um lado ganha", disse, ao ponderar ainda que o pacto não envolveu apenas os interesses do Brasil, mas foi preciso acomodar também os interesses dos demais parceiros do Mercosul --Argentina, Paraguai e Uruguai.
CONCESSÕES
O chanceler brasileiro afirmou que o acordo mostra que o Brasil tem posição séria no compromisso --feito pelo presidente Jair Bolsonaro ainda na época da campanha eleitoral-- de promover a abertura econômica do país e revitaliza o próprio Mercosul, além de reforçar a busca de se consolidar toda a América do Sul como uma democracia e uma economia de mercado.
Araújo reconheceu que uma condição necessária para que o acerto saísse foi a disposição do bloco europeu de fazer concessões.
Sem dar detalhes, ele disse que na reta final para o fechamento do acordo foram retiradas salvaguardas, ao responder se havia sido mantido uma espécie de cláusula de proteção, pela qual os europeus poderiam, sob determinadas circunstâncias, suspender unilateralmente importações.
Embora tenha ressalvado que não queria entrar na questão das cotas de importação e exportação de produtos, a ministra da Agricultura disse que houve um avanço sim. Segundo ela, onde não foi possível ganhar em volume, ganhou-se em tarifas e, em muitos casos, a cota é zero.
O ministro das Relações Exteriores disse que o acordo mostrou que, para a União Europeia, o Mercosul não é um parceiro qualquer e destacou que a abertura do setor de serviços gera a vinda de prestadores europeus, o que aumentará a "nossa competitividade".
O chanceler afirmou que as recentes declarações públicas de Bolsonaro, do presidente da França, Emmanuel Macron, e da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, não tiveram qualquer impacto no fechamento do acordo.
Na véspera, Macron chegou a afirmar que não assinaria nenhum acordo comercial com o Brasil caso o país saísse do acordo climático de Paris. Nesta sexta, antes da divulgação do acordo, Bolsonaro reuniu-se com Macron em Osaka, onde ambos participam do encontro do G20, e lhe assegurou que o país vai permanecer no pacto climático.
Segundo Araújo, no encontro entre Bolsonaro e Macron, o presidente brasileiro teve a oportunidade de falar sobre a política ambiental brasileira e considerou que esse esclarecimento "talvez" tenha dissipado qualquer opinião equivocada em relação à atuação do Brasil nessa área. Ele avaliou que tampouco ficou algo pendente em relação à primeira-ministra alemã.
(Por Ricardo Brito, em Brasília)