Buenos Aires, 1 ago (EFE) O governo da Argentina acusou nesta sexta-feira o juiz federal americano Thomas Griesa de imobilismo, "para beneficiar os fundos abutre", e afirmou que averiguará a existência de uma "possível fraude milionária" para a cobrança de seguros de falta de pagamento.
"Mais uma vez o juiz convocou uma audiência para não resolver absolutamente nada em relação aos fundos de terceiros que mantém imobilizados", declarou o Ministério da Economia argentino em comunicado horas depois da audiência realizada em Nova York.
"Deste modo, longe de manter o status quo, como denunciou a República, volta a favorecer os fundos abutres", continuou o documento.
Segundo a pasta liderada pelo ministro Axel Kicillof, ao bloquear o dinheiro para alguns dos credores de dívida reestruturada, Griesa "pretende submeter a Argentina a uma verdadeira extorsão para que pague os fundos abutre".
O Ministério da Economia argentino criticou a decisão do juiz de manter Daniel Pollack como mediador do litígio por considerar que demonstrou "sua manifesta parcialidade" a favor dos fundos especulativos.
Além disso, rejeitou de novo que o país tenha entrado em moratória e advertiu que as decisões do juiz podem ser "uma manobra encaminhada para que os fundos abutre, diretamente ou através de outras sociedades, cobrem seguros de default que eles mesmos reconheceram que têm".
Nesse sentido, se referiu à decisão tomada hoje pela Associação Internacional de Swaps e Derivados (ISDA, na sigla em inglês) de aceitar o pagamento dos seguros de falta de pagamento por um montante próximo a US$ 1 bilhão.
"Apesar de isto não implicar que a República deva pagar absolutamente nada, já que são transações entre privados, favorece uns a custas de outros, além de tentar instalar a mensagem que a Argentina se encontra em default", acrescentou o Ministério no comunicado.
Segundo o governo de Cristina Kirchner, "estaríamos perante um insólito caso onde uma das partes, com a ajuda do juiz, provoca os fatos que depois a favorece".
O Ministério da Economia revelou que "perante esta possível fraude milionária" notificou a situação à Comissão Nacional de Valores (CNV) e "solicitou que se inicie imediatamente uma exaustiva investigação".
Segundo sua opinião, a CNV deve determinar se o julgamento "não é na realidade a fachada de uma manobra especulativa em favor dos fundos abutres".
Cristina Kirchner assegurou ontem que a Argentina "vai utilizar todos os instrumentos legais" para que os credores que aderiram as trocas de dívida em 2005 e 2010 (92,4% do total) recebam o dinheiro correspondente ao último vencimento de dívida, que foi aplicado pelo país sul-americano no último dia 26 de junho.
Apesar de ter efetuado o pagamento, o juiz nova-iorquino o mantém congelado nas entidades bancárias sob a cláusula "pari passu", que obriga um desembolso simultâneo a todos os credores, com ou sem reestruturações, ou, em último caso, a prioridade de pagamento aos credores querelantes (1%).
Na audiência realizada hoje, Griesa descartou a substituição de Pollack por "perda de confiança", como alegou Argentina, e pediu que as partes continuem as negociações apesar de ter vencido o mês de prazo que o governo de Cristina tinha para pagar os fundos especulativos.