Diana Marcela Tinjacá
Bogotá, 18 mar (EFE).- Os bancos latino-americanos "se mantêm de pé" e com boas perspectivas, apesar do arrefecimento dos últimos anos e das dúvidas geradas pelo governo de Donald Trump nos EUA, pela situação na Venezuela e pela lenta recuperação do Brasil e Argentina.
"A região viveu golpes muito duros na economia, na política e uma era de incerteza, mas os bancos se mantêm de pé e é um dos setores que mais fornece ao PIB regional", afirmou à Agência Efe Giorgio Trettenero, secretário-geral da Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban).
"Isto é porque a região mudou, está capitalizada, aprendeu com os erros e as crises e a cautela levou a ser mais estável e a não se assustar de antemão com o que acontece nos EUA", indicou o diretor em Bogotá, no marco de uma reunião dos presidentes das associações bancárias da região e outros representantes do setor.
O economista peruano se referiu aos relatórios de conjuntura regional da organização divulgados no último mês e explicou que, apesar do biênio contracionista 2015-2016, a economia segue seu rumo.
"Além disso, as entidades mantiveram suas disposições. Portanto por cada dólar em moratória, os bancos tem US$ 2,27 de reserva", disse ao acrescentar que embora a rentabilidade seja excelente 17,5% a 14,92%, o setor segue dando lucro.
"Os bancos estão crescendo a ritmos positivos ainda. Tivemos dois anos muito ruins, mas a maioria dos países está saindo da crise", sustentou Trettenero ao destacar o crescimento econômico na América Central, Caribe, Colômbia e Peru.
Trettenero detalhou que o Peru tem "grandes perspectivas e o presidente Pedro Pablo Kuczynski tem muita experiência e dará mais estabilidade ao país"; enquanto no Chile, o futuro é "complicado do ponto de vista político porque estão mudando as regras de jogo".
Já no Brasil, Trettenero detalhou que o páis "já chegou ao fundo do poço, está revendo suas contas e, embora não vá sair hoje da crise, tem uma boa perspectiva e sua evolução será determinante para a região".
A Felaban também não acredita que a Argentina, onde as pessoas estão muito "impacientes", vá "solucionar seus problemas econômicos de 15 anos em seis meses", mas espera que deem ao presidente Mauricio Macri "oxigênio para fazer as reformas necessárias para a recuperação".
Trettenero ressaltou o caso da Venezuela, que enfrenta uma crise que deve persistir neste ano. "Tenho muita admiração pelos banqueiros venezuelanos, porque apesar de tudo, sobreviveram, porque saíram adiante e estão aguentando".
"O problema é que se há problemas para repatriar lucros, trabalhar é quase impossível. Têm acionistas no mundo todo que querem seu dinheiro", expressou em referência às restrições cambiais e à escassez de divisas para insumos de operação.
Trettenero mencionou circunstâncias externas que geram muita incerteza na região, como a saída do Reino Unido da União Europeia ("Brexit") e as políticas de Trump e seu impacto no México.
"Na Felaban achamos que o que ocorre no México dependerá de como manejar o tema comercial, pois é hora de começar a olhar para o sul", acrescentou ao pedir que seja promovido o comércio inter-regional como vantagem competitiva.
"Na Europa, o comércio dentro da região chega a 50%; na Ásia do Leste é de 65%; mas na América Latina quase não chega a 17%. Ali há uma grande oportunidade", advertiu.
Para Trettenero, a grande dificuldade para os bancos é o excesso de regulamentação. "As regras são boas quando são adequadas ao tamanho do problema, mas a legislação global é feita para países do G20 ou G7. A América Latina é diferente, está marcada pela informalidade e a pobreza".
E a isto se somam os requerimentos de capital, que aumentaram paulatinamente para prevenir riscos futuros, mas que na prática, manifestou, "restringem a oferta, diminuem a rentabilidade e põem sob ameaça bancos médios e pequenos", acrescentou o diretor da Felaban, que agrupa cerca de 600 bancos através de suas respectivas associações em 19 países da região.