Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central surpreendeu ao reduzir nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, a 13,00 por cento ao ano, intensificando o ritmo de afrouxamento monetário para além do esperado pelo mercado diante de sinais de retomada econômica mais demorada após dois anos de profunda recessão.
Também passou a ver a inflação abaixo do centro da meta neste ano, em 4,0 por cento no cenário de referência, contra 4,4 por cento antes, sugerindo espaço suficiente para mais cortes robustos na Selic. Para 2018, a estimativa também caiu a 3,4 por cento, contra 3,6 por cento anteriormente. A meta para esses dois anos é de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual.
"Diante do ambiente com expectativas de inflação ancoradas, o Comitê entende que o atual cenário, com um processo de desinflação mais disseminado e atividade econômica aquém do esperado, já torna apropriada a antecipação do ciclo de distensão da política monetária, permitindo o estabelecimento do novo ritmo de flexibilização", afirmou o BC em comunicado, após reconhecer que chegou a avaliar a alternativa de reduzir a Selic em 0,5 ponto e sinalizar um corte maior para a próxima reunião.
"A extensão do ciclo e possíveis revisões no ritmo de flexibilização continuarão dependendo das projeções e expectativas de inflação e da evolução dos fatores de risco mencionados", acrescentou.
Em pesquisa Reuters, a grande maioria dos analistas consultados previu redução de 0,50 ponto percentual na Selic. Poucos, incluindo o maior banco privado do Brasil, Itaú Unibanco, estimaram corte mais agressivo, de 0,75 ponto.
O ciclo de distensão monetária foi iniciado em outubro, com dois cortes de 0,25 ponto percentual cada na Selic, apontando que flexibilização gradual nos juros era compatível com a convergência da inflação para o centro da meta em 2017 e 2018.
Em suas últimas comunicações, o BC ressaltou estar sensível ao nível da atividade econômica, reconhecendo recuperação mais lenta que o inicialmente estimado e já abrindo a porta para redução maior nos juros básicos. Agora, o BC assinalou que "a evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica deve ser ainda mais demorada e gradual que a antecipada previamente".
Após martelar em diversas ocasiões que a recente ancoragem das expectativas era o que dava amparo a cortes na Selic e que havia visto surpresas positivas no processo de desinflação, o BC afirmou no comunicado que há evidências positivas inclusive sobre a inflação de serviços, em relação à qual vinha demonstrando preocupação.
A inflação medida pelo IPCA fechou 2016 em 6,29 por cento, abaixo do esperado pelo mercado e dentro da meta do governo, o que não ocorreu em 2015.
Na pesquisa Focus mais recente, feita pelo BC com mais de uma centena de analistas todas as semanas, a expectativa era de alta do IPCA a 4,81 por cento em 2017 e de 4,5 por cento em 2018.