Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou 19 por cento menos crédito em 2017 até agosto refletindo a demanda fraca por recursos para investimentos, e em meio a dúvidas sobre qual será o papel da instituição que está prestes a operar com taxas mais próximas das praticadas no mercado.
O banco federal de fomento anunciou nesta terça-feira que emprestou 45 bilhões de reais nos primeiros oito meses do ano, movimento que atribuiu ao "cenário econômico mais crítico".
Indicadores antecedentes do banco mostraram que o ritmo não deve melhorar nos próximos meses. As consultas, primeira etapa do processo de tomada de recursos no banco, caíram 10 por cento no período, a 68,7 bilhões de reais, enquanto as aprovações diminuíram 15 por cento na mesma comparação, a 45 bilhões.
Nesse ritmo, o BNDES deve fechar 2017 com cerca de 67 bilhões de reais emprestados, volume só superior aos 65 bilhões de 2007, no quarto ano seguido de queda. No ápice, em 2013, o banco emprestou 190,4 bilhões de reais.
Desde então, o movimento no banco tem sido pressionado pela combinação de forte recessão, fim das gigantescas capitalizações feitas pelo governo federal e, desde 2015, regras mais duras para cessão de recursos subsidiados.
Esse ciclo foi consolidado recentemente com a aprovação legislativa da troca da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), fortemente subsidiada, pela Taxa de Longo Prazo (TLP), mais próxima da praticada no mercado, como principal referência para empréstimos do BNDES a partir de 2018.
Segundo profissionais do mercado, a transição é saudável por incentivar o maior uso do mercado de capitais como fonte de recursos de longo prazo, mas deve levar algum tempo até que os potenciais tomadores se acostumem com a mudança.
"A mudança da taxa não é o fator mais determinante para o nível de demanda no BNDES, mas os investidores querem entender qual será a relevância do banco em financiar investimentos", disse José Virgílio Lopes Enei, sócio do escritório de advocacia Machado Meyer, em entrevista recente à Reuters.
Simultaneamente, o banco enfrenta uma discussão sobre o cronograma para devolução de recursos para a União. O governo quer reaver 50 bilhões de reais este ano e 130 bilhões de reais em 2018, para suprir deficiências de receita. O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, é contra o pedido do governo para a devolução de 180 bilhões.