Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai contratar outro escritório internacional para analisar o financiamento do banco a exportação de bens e serviços de engenharia nos últimos anos, especialmente as destinadas ao grupo Odebrecht, disse uma fonte a par do assunto.
O trabalho da consultoria deve começar no ano que vem e, há chance de os primeiros resultados virem já em 2019. A Odebrecht foi um dos alvos da Operação Lava Jato e Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, foi preso por cerca de 2 anos.
Em delações, ex-executivos da Odebrecht disseram que faziam pressão sobre oficiais do banco, incluindo sobre o ex-presidente Guido Mantega, para agilizar processos para liberar empréstimos.
"Não será o mesmo escritório que está avaliando as operações de JBS (SA:JBSS3) e J&F", disse a fonte sob condição de anonimato. "Ninguém falou em benefício direto a funcionário do banco, mas que os pedidos eram feitos, no caso ao Mantega", adicionou.
A orientação para a consultoria, segundo a fonte, é ir a fundo nas investigações sobre financiamento a exportação para bens e serviços de engenharia da Odebrecht.
"Queremos chancelar aquilo que dizemos, que não houve nenhuma facilitação. Mas se encontrarem algo, não haverá limites", disse a fonte. "A investigação pode eventualmente aperfeiçoar processos do banco para uma segurança ainda maior para o futuro", adicionou.
Na gestão de Maria Silvia Bastos Marques, o BNDES anunciou a suspensão de empréstimos para as principais empreiteiras brasileiras investigadas pela Lava Jato. Os contratos que totalizavam 4,7 bilhões de dólares.
Além de Odebrecht, a decisão afetou OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, envolvendo contratos em países como Argentina, Cuba, Venezuela, Guatemala, Honduras, República Dominicana, Angola, Moçambique e Gana.
Ao todo, a suspensão inclui 25 projetos, que somam 7 bilhões de dólares, sendo que 2,3 bilhões já tinham sido desembolsados. Para reativar o financiamento, as empresas têm que se enquadrar a novos critérios do banco.
O presidente eleito Jair Bolsonaro tem dito que uma das suas primeiras medidas de governo será abrir o que chama de caixa preta do BNDES. O atual presidente do banco, Dyogo Oliveira, disse que o banco firmou acordos com órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU), e que as operações do banco estão bem mais claras e disponíveis na página na internet.
"Tomei isso como incentivo porque imagino que o presidente se referia a operações contratadas muitos anos atrás", disse Oliveira. "Tenho plena certeza que o BNDES é o banco mais transparente no mundo", finalizou.