Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O governo brasileiro emitiu 1,5 bilhão de dólares em bônus Global 2029, com rendimento de 4,7 por cento ao ano, informou o Tesouro Nacional nesta quinta-feira, na primeira investida no mercado internacional de renda fixa em mais de um ano.
Mais cedo, o IFR, serviço de informações financeiras da Thomson Reuters, já havia antecipado esse volume.
A emissão dos títulos de 10 anos teve cupom de 4,5 por cento e spread de 215,8 pontos-base acima dos Treasuries, títulos do Tesouro americano. Os papéis saíram com preço de 98,385 por cento do valor de face.
O Tesouro avaliou que a sinalização feita na véspera pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano, de que não elevará os juros neste ano tornou o momento propício para a emissão, abrindo caminho para um melhor sentimento de mercado com relação a economias emergentes.
A operação desta quinta-feira marca a volta do Brasil ao mercado de renda fixa soberana internacional depois de mais de um ano. A última operação do tipo ocorreu em janeiro de 2018, quando o Tesouro fez a reabertura do Global 2047, bônus de 30 anos.
Na época, o custo de proteção contra calote da dívida brasileira, medido por Credit Default Swaps (CDS) de cinco anos, estava em torno de 145 pontos básicos. Nesta quinta-feira, essa medida estava mais alta, em quase 162 pontos-base.
Já na véspera, o CDS brasileiro havia subido cerca de 5 pontos-base, no mesmo dia em que o governo entregou ao Congresso proposta de reforma da Previdência dos militares com projeção de economia bem abaixo do esperado pelo mercado.
Essa informação, somada à prisão nesta quinta-feira do ex-presidente da República Michel Temer, azedou o mercado, com forte alta do dólar e dos juros futuros e firme queda do Ibovespa.
Mesmo com o ambiente doméstico conturbado, o Tesouro avaliou que a operação foi bem sucedida. O rendimento final ficou 25 pontos-base abaixo do nível de 4,95 por cento inicialmente cotado no mercado e no limite inferior da faixa entre 4,70 por cento e 4,80 por cento, considerando o "guidance" de 4,75 por cento da emissão.
Segundo o Tesouro, a demanda pelos papéis brasileiros foi cerca de quatro vezes superior à quantia ofertada.
Na última operação de vencimento de 10 anos, ocorrida em outubro de 2017, os títulos emitidos (Global 2028) saíram a 99,603 por cento do valor de face e a taxa de retorno ficou em 4,675 por cento, com spread de 235 pontos-base ante os Treasuries de referência.
As emissões externas da República servem de parâmetro para operações pelo setor corporativo. Recentemente, Suzano (SA:SUZB3), BTG Pactual (SA:BPAC11), Petrobras (SA:PETR4) e Banco do Brasil (SA:BBAS3) captaram recursos nos mercados internacionais.