Por Gabriel Stargardter
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os esforços brasileiros para construir relações melhores com os Estados Unidos não devem preocupar a China, principal parceira comercial do Brasil, porque nunca houve um problema com a China, disse o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, nesta sexta-feira.
O problema no passado foi como administrações anteriores do Brasil lidaram com as relações com a China, argumentou o chanceler brasileiro.
Falando a repórteres depois de uma reunião com importantes autoridades da China, Rússia, Índia e África do Sul, durante reunião do Brics no Rio de Janeiro, Araújo acrescentou que os esforços do Brasil para melhorar as relações com os EUA não precisam colocar em risco os laços com a China, segunda maior economia do mundo.
“Nunca tivemos qualquer problema com a China. Tivemos problemas com a maneira como o próprio Brasil estava organizando, ou não organizando, sua relação com a China”, disse.
Antes de se tornar ministro das Relações Exteriores, Araújo ganhou notoriedade ao escrever um texto em um blog no qual dizia que as mudanças climáticas eram um complô marxista inventado para estimular a economia chinesa e prejudicar o Ocidente. Desde que assumiu o ministério, no entanto, ele e outros membros do governo do presidente Jair Bolsonaro, outro crítico da China, adotaram um atitude mais pragmática em relação a Pequim.
CONCORDANDO EM DISCORDAR
Mais cedo, em uma declaração para marcar o início da reunião do Brics, Araújo disse aos presentes que ouçam ao grito de liberdade do povo venezuelano, que está passando por uma dramática crise política e econômica, que respinga no vizinho Brasil.
“Toda a comunidade internacional precisa ouvir esse grito, entendê-lo, e agir”, disse Araújo. “O Brasil ouviu o grito e apelo para que todos vocês ouçam também."
Dentro do Brics existem visões divergentes sobre a melhor maneira de lidar com a crise da Venezuela.
Rússia e China são aliados leais do presidente venezuelano Nicolás Maduro, enquanto a maioria das potências ocidentais reconheceu o líder de oposição Juan Guaidó como presidente legítimo do país, alegando que a reeleição de Maduro, em 2018, foi fraudulenta.
Falando depois com repórteres, Araújo reconheceu essas divergências, dizendo que “tentou fazer avançar a perspectiva brasileira sobre a Venezuela”.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, defendeu o direito da Venezuela de resolver seus próprios problemas, sem intervenção estrangeira ou uso da força.