Por Bruno Federowski e Patrícia Duarte
SÃO PAULO (Reuters) - O pacote com aumento de impostos anunciado na noite de segunda-feira pelo governo federal, que incluiu tributos sobre combustíveis, piorou ainda mais as expectativas de inflação para este ano, com projeções acima de 7 por cento, cada vez mais longe do teto da meta oficial.
Se confirmada, a alta anual do IPCA seria a maior em mais de uma década, mas ainda não o suficiente para especialistas acreditarem em aperto monetário maior pelo Banco Central, uma vez que a atividade econômica fraca e a perspectiva de maior rigor fiscal devem, com o tempo, gerar alívio nos preços.
"Fundamentalmente, vai sobrar para a atividade", afirmou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, que elevou em 0,5 ponto percentual a sua estimativa de alta do IPCA para este ano, a 7,3 por cento, após o anúncio do pacote de medidas fiscais.
A última vez que a inflação oficial do país ficou acima de 7 por cento foi em 2004, quando o IPCA subiu 7,60 por cento. A meta oficial é de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Última pesquisa Focus do BC com economistas de instituições financeiras, feita antes do aumentos dos tributos, mostrou que as estimativas eram de que o IPCA subiria 6,67 por cento neste ano, com expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,38 por cento.
Entre as quatro medidas tributárias divulgadas na véspera, que devem elevar a arrecadação neste ano em 20,63 bilhões de reais, a que pesa mais sobre os preços é o aumento das alíquotas da Cide e do PIS/Cofins que incidem sobre combustíveis.
Como a Petrobras já informou que os impostos serão repassados aos preços aos consumidores, Gonçalves espera que o preço da gasolina suba entre 8 e 9 por cento na bomba e o do diesel, cerca de 3 por cento.
Mesmo com a piora cada mais acentuada sobre as expectativas de inflação, especialistas consultados pela Reuters não esperam que o BC possa ser mais agressivo na elevação da taxa básica de juro, hoje em 11,75 por cento ao ano, para não afetar ainda mais a já frágil atividade econômica.
"Ao mesmo tempo em que tem a inflação mais pressionada agora, tem um alívio maior no fim do ano por causa do fiscal mais apertado e da atividade mais fraca", disse o estrategista da corretora Icap, Juliano Ferreira, que manteve sua projeção de que Selic irá a 12,50 por cento no fim do atual ciclo de aperto, iniciado em outubro passado.
"Por isso, o BC pode se dar ao luxo de não colocar a Selic no céu", acrescentou ele.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decide na quarta-feira sobre a Selic e as expectativas quase unânimes são de que elevará a taxa em 0,50 ponto percentual.
Apesar do cenário de maior pressão sobre a inflação, as ações de maior rigor fiscal têm agradado agentes econômicos, que as consideram essenciais para ordenar as contas públicas.
"Se você está fazendo um ajuste, está colocando a casa em ordem e vai ter que pagar um preço no curto prazo", disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, que espera que o IPCA avance 7,1 por cento neste ano.
"Mas com medidas de ajuste fiscal, política monetária contracionista e quadro de atividade relativamente fraca, é possível imaginar que os preços voltem a convergir à meta a partir do ano seguinte", acrescentou Rosa, em linha com o cenário que vem sendo defendido pelo próprio BC.
A nova equipe econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff --encabeçada pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), além do presidente do BC, Alexandre Tombini-- vêm adotando medidas fiscais para recuperar a confiança na economia.