Por Luiz Guilherme Gerbelli
SÃO PAULO (Reuters) - A intensa crise que acertou em cheio o governo do presidente Michel Temer vai afetar a recuperação da economia em 2017, afirmaram analistas à Reuters nesta quinta-feira, e já há quem não descarte ainda que o país pode continuar em recessão, o que seria o terceiro ano seguido de contração.
As denúncias envolvendo Temer, acusado de dar aval para a compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha, vão abalar dois pilares considerados fundamentais para a atividade econômica: a confiança de empresários e consumidores e a queda da taxa básica de juros.
"Essa crise não tem como não prejudicar a economia. Este e o próximo trimestre, pelo menos, serão muito afetados e jogarão o crescimento bem para baixo", afirmou o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale (SA:VALE5), para quem, antes das denúncias, a expectativa era que o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano avançaria 1 por cento.
Até a nova crise, os agentes econômicos davam como certo que, em 2017, o Brasil deixaria para trás os dois anos seguidos de recessão, período no qual encolheu mais de 7 por cento. Segundo a mais recente pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente uma centena de economistas, a projeção era de expansão de 0,50 por cento agora e de 2,50 por cento em 2018.
Na avaliação de analistas, a piora do ambiente político deve minar a confiança de empresários e consumidores na economia brasileira, o que prejudica consumo e novos investimentos, além de postergar a conclusão no Congresso Nacional de importantes reformas, como a da Previdência, considerada fundamental para colocar as contas públicas em ordem.
"Há uma incerteza com o que vai acontecer e se as reformas vão ser aprovadas", disse o economista da consultoria GO Associados Luiz Fernando Castelli. "Os indicadores de confiança devem refletir esse cenário", afirma.
Um indício foi dado nesta tarde. O relator da reforma trabalhista no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), anunciou que o calendário de tramitação da proposta está suspenso devido à crise política.
JUROS
A política monetária deve ser a outra ponta fortemente afetada pela crise política. Os economistas chegaram a avaliar, antes da crise, que o BC reduziria os juros básicos em 1,25 ponto percentual agora em maio, com todo o ciclo de afrouxamento monetária levando a Selic para a faixa de 7 e 8 por cento ao ano. Hoje ela está em 11,25 por cento.
"Nesse contexto, o viés de câmbio mais depreciado com a não aprovação das reformas reduz o espaço do BC para cortar juros", avaliou a economista da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro.
"Eu ainda vejo espaço para corte (na Selic) porque o câmbio num nível de 3,40 reais e 3,50 reais não compromete tanto o cenário da inflação, ainda que o ritmo de corte de juros possa ser menor."
A Tendências acredita que agora o BC só consegue levar os juros para um patamar próximo de 9 por cento e projeta crescimento de apenas 0,3 por cento para este ano. E, embora não seja o cenário principal, não descarta que a economia brasileira permaneça em recessão.
A piora do cenário econômico vem na esteira de uma série de piora nas projeções para o desempenho da economia brasileira no segundo trimestre, mas ainda com o cenário de crescimento neste ano.
Na semana passada, o banco Bradesco (SA:BBDC4), por exemplo, passou a prever queda de 0,2 por cento do PIB entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores, ante estimativa de estabilidade.
"Se essa crise for muito longa, é ruim. A economia já estava fraca. O que vai afetar com certeza é o cronograma de investimento, com os (investidores) estrangeiros mais preocupados", disse o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves.
(Edição de Patrícia Duarte)