Buenos Aires, 31 out (EFE).- A presidente argentina, Cristina Kirchner, enviou uma carta nesta sexta-feira ao presidente americano, Barack Obama, e pediu que esclareça se uma funcionária de seu governo está ligada aos fundos que ganharam um processo apresentado contra a Argentina nos Estados Unidos para reivindicar dívidas não saldadas desde 2001.
Na carta, Cristina reivindica que Obama confirme se Nancy Soderberg, presidente da Junta de Desclassificação de Interesse Público (PIDB, em inglês), é a pessoa homônima que copreside o lobby que aglutina os que denomina de "fundos abutre".
"Um fato que, se o senhor o confirmar, seria grave para as relações entre nossos países", declarou a governante.
Segundo Cristina, a biografia distribuída pela Casa Branca "não informa o cargo da senhora Soderberg" na American Task Force Argentina (ATFA) e vice-versa.
"Poderia ser um caso de homônimos?", se pergunta a presidente.
A chefe de Estado também denuncia "a agressividade e baixeza moral da campanha dirigida pela senhora Nancy Soderberg na ATFA" contra a Argentina e lembra "fatos vergonhosos" como a instalação de um rato inflável gigante na frente da embaixada argentina em Washington.
"Estas ações desagregáveis se transformariam em uma questão de Estado se fossem realizadas por uma funcionária pública. Seria o caso se a responsável da ATFA fosse a mesma pessoa que trabalha na Casa Branca e não simples homônimos", ressalta Cristina.
A governante ressalta que as funções do PIDB "abrangem aspectos sensíveis de segurança nacional" e considera que "seria inadmissível que um cargo do governo dos Estados Unidos, com acesso à informação confidencial" seja a mesma pessoa que copreside a ATFA.
Para a Argentina, a coincidência de cargos representaria também "uma grande contradição" na luta dos Estados Unidos contra a evasão fiscal já que, segundo Cristina, a ATFA está financiada por fundos com sede nas Ilhas Cayman.
Em sua despedida, a presidente argentina convoca Obama para uma reunião bilateral durante a próxima Cúpula do G20, que será realizada nos dias 15 e 16 de novembro em Brisbane (Austrália), "para trabalhar juntos contra os fundos abutre, fortalecer a reestruturação de dívidas soberanas e pela eliminação dos paraísos fiscais".
O juiz Thomas Griesa de Nova York decidiu a favor dos fundos que processaram à Argentina e ordenou ao Estado desse país que pague US$ 1,3 bilhão mais juros por bônus não reestruturados em moratória desde 2001.
A sentença de Griesa foi ratificada pela Corte Suprema dos EUA, mas a Argentina não pagou os litigantes até agora.