Cleyton Vilarino.
São Paulo, 13 fev (EFE).- A crescente demanda do Oriente Médio deve impulsionar cada vez mais as exportações de alimentos brasileiros e, inclusive, acelerar a instalação de companhias do país na região, informaram nesta sexta-feira fontes do setor.
"É uma tendência clara que as empresas foquem cada vez mais na região, inclusive instalando-se ali, como foi o caso da BRF, atraídas pelos incentivos dados por alguns países e pela tributação menor do que no Brasil, com custos e cargas sociais menores", disse à Agência Efe o diretor da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Michel Alaby.
Segundo a entidade, os principais produtos importados pelos países árabes são açúcar, carnes, cereais e sementes, o que representa cerca de 70% do que o Brasil vende à região.
O Oriente Médio responde por 34% das importações do frango produzido no país, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Entre os maiores compradores do corte "halal" (que atende aos requisitos da religião muçulmana) estão os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, o Egito, a Argélia e Omã.
Além da demanda elevada de aves na região, a opção da BRF em instalar uma fábrica próxima dos consumidores faz parte da estratégia da multinacional de "produzir localmente com atuação global", sem descartar a redução de custo para exportar a partir do Oriente Médio para outros mercados-chave, como a Rússia e a China.
"Faz um tempo que investimos na região e na criação de uma marca. Hoje, em alguns países nossa fatia do mercado chega a 40%", revelou à Efe o diretor de Global Desk da BRF, José Humberto Teodoro Júnior.
A planta instalada nos Emirados Árabes Unidos tem como objetivo aumentar a participação da empresa nas vendas de produtos processados, que vem crescendo, mas ainda não é tão grande como a do comércio de frangos inteiros.
"A fábrica vem para nos ajudar na estratégia de ganhar relevância no mercado quando falamos de alimentos e não só de produtos 'in natura'", explicou Júnior.
Dados da empresa indicam que as exportações para o Oriente Médio aumentaram 10% em volume e 18% em faturamento total no terceiro trimestre de 2014 em relação ao mesmo período de 2013.
A cadeia produtiva também se beneficia com esse movimento porque "vender frango é vender farinha de soja com valor agregado", explicou à Efe o gerente de Economia da Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Furlan Amaral.
"Sempre que as empresas fazem investimentos nesta região inaugurando fábricas ou aviários, precisamos vender soja ou farinha de soja para aquele local", apontou.
"Não perceberemos na venda de carne direta, mas ela foi alimentada com uma ração composta com 20% de farinha de soja e 60% de milho", acrescentou o gerente de Economia da Abiove.
Apesar de alguns setores da agroindústria nacional não voltarem diretamente para o Oriente Médio e até observem a participação no mercado árabe diminuir, o crescimento do segmento de alimentos nos países árabes é comemorada.
"O importante é crescer como indústria no Brasil. O ideal é exportar a carne, porque estamos vendendo o produto com o maior valor agregado possível", afirmou Amaral.