Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar teve nesta terça-feira a maior alta diária ante o real em mais de um mês, na esteira dos ganhos da moeda norte-americana no exterior, que operava nas máximas em cinco semanas com sinais de força da economia dos Estados Unidos.
A volatilidade cambial teve nesta terça a maior alta desde o fim de junho, quebrando uma sequência de quatro baixas consecutivas que haviam levado essa medida de incerteza no câmbio ao menor patamar desde julho de 2014.
O real esteve entre as divisas que mais perdeu terreno nesta sessão, depois de vários pregões recentes na ponta de valorização, quando captou o efeito positivo do andamento da agenda brasileira de reformas.
No exterior, o dólar saltava a máximas em cinco semanas ante uma cesta de moedas, em alta contra praticamente todos os seus principais rivais.
O dólar voltou a tomar fôlego no mundo depois de o Fed de Nova York conter expectativas de um corte mais agressivo de juros nos EUA no fim deste mês. Além disso, a moeda tinha suporte nesta sessão com o acordo firmado entre a Casa Branca e líderes do Congresso norte-americano para evitar um novo "shutdown".
As chances de menor alívio monetário nos EUA ganharam força enquanto no Brasil os mercados ampliaram apostas em redução mais expressiva de juros até o fim do ano. Nesse cenário, o diferencial de taxas entre os dois países ficaria menos favorável ao Brasil, com menor estímulo a fluxos para a renda fixa doméstica.
Isso teria efeito de conter fluxos de dólar ao país, o que por tabela poderia dar sustentação ao dólar em patamares ainda altos.
"Qualquer leitura do IPCA-15 (de julho) abaixo de 0,13% provavelmente turbinará apostas de cortes da Selic e poderá reverter a queda recente do dólar", disse Dimitri Zabelin, analista do DailyFX.
O IPCA-15 subiu apenas 0,09%, e no mercado de DI investidores ampliaram posições em prol de um corte de 0,50 ponto percentual da Selic no fim deste mês.
O Bank of America Merrill Lynch está entre os bancos que esperam corte agressivo do juro, para 4,75% ao fim deste ano (dos atuais 6,50%). Ainda assim, o BofA melhorou a previsão para a taxa de câmbio, de 3,80 reais ao fim deste ano para 3,70 reais.
"Há expectativa de fluxo de concessões, IPOs, privatizações...", o que respalda a expectativa de ganhos moderados para o real, disse David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch para o Brasil.
O dólar à vista subiu 0,89% nesta terça, a 3,7729 reais na venda.
É a mais forte valorização desde 14 de junho (+1,16%). O patamar de encerramento é o mais alto desde 8 de julho (3,8081 reais).
Na B3, o contrato de dólar futuro mais líquido tinha ganho de 0,88%, a 3,7770 reais.