Investing.com – Com o início da contagem regressiva para o retorno do Congresso dos EUA a Washington em 5 de setembro, alguns especialistas começaram a questionar se a discussão dos legisladores sobre o teto da dívida de US$ 19,8 trilhões poderia representar um obstáculo ao Federal Reserve em seu movimento em direção à normalização da política monetária.
Desde que o limite de US$ 19,8 trilhões foi atingido em março, o governo tem utilizado "medidas extraordinárias" para arrumar dinheiro e continuar com dotação financeira até que se chegasse a um acordo, mas o Tesouro dos EUA sugeriu que o prazo para se chegar a um acordo definitivo seria 29 de setembro, apenas 12 dias úteis após o Congresso retornar.
Embora o Escritório de Orçamento do Congresso tenha sugerido que o prazo possa ser estendido um pouco, estimando que essas medidas sejam esgotadas e o governo não fique sem dinheiro até algum ponto entre 3 de outubro e 11 de outubro, o Fed tem marcada sua próxima decisão de política monetária para 20 de setembro.
A incerteza não se concentra apenas em se fazer um acordo bipartidário, mas também no fato de que a maioria Republicana não está totalmente unida nessa perspectiva.
Diversos legisladores do Partido Republicano são considerados fiscais estritamente agressivos que insistem que qualquer aumento no teto da dívida seja ligado aos gastos diretos do governo ou, no mínimo, a uma menor taxa de execução de pagamentos.
"A História nos mostra que esses eventos não duram muito com políticos percebendo logo a necessidade de se aprovar um projeto", afirmou James Knightley, economista-chefe internacional do ING.
"No entanto, tal risco torna provável que o Federal Reserve vá agir com cautela de modo que um fechamento do governo tornaria um novo aumento na taxa de juros ainda este ano parecer menos provável", alertou ele.
"Se a incerteza aumentar nas próximas semanas, isso também significaria que o Fed escolherá adiar sua estratégia de redução do balanço patrimonial, embora neste momento ainda esperamos um anúncio em setembro com data de início em outubro", acrescentou Knightley.
A opinião refletiu comentários feitos por Stanley Fischer, vice-presidente do Fed, na última quarta-feira, em que ele reconheceu suas incertezas quanto ao anúncio do início da redução do balanço patrimonial na reunião de setembro.
Fischer afirmou, em uma entrevista ao Financial Times, que havia uma ameaça de enfrentamento no Congresso quanto ao teto da dívida, embora ele tenha declarado que "em algum sentido profundo, pessoas não acreditam que o Congresso e a administração dos EUA permitirão que os Estados Unidos fiquem inadimplentes em sua dívida".
O vice-presidente do Fed ainda sugeriu que qualquer volatilidade do mercado provavelmente seria de curta duração e observou que "há ainda um desejo de afirmar que temos alguma confiança de que o sistema é muito estável".
Fischer acrescentou que seria provável haver uma ruptura entre o anúncio real da redução do balanço patrimonial e sua data de início, assim o Fed poderia interromper se qualquer circunstância inesperada surgisse.
Em comentários similares, William Dudley, presidente do Fed de Nova York e membro votante permanente, parecia estar mais alinhado à presidente do Fed, Janet Yellen, ao sugerir na última segunda-feira que a previsão do mercado do plano ser anunciado em setembro não seria "irracional".
Em resposta à questão sobre o teto da dívida, Dudley minimizou a situação, declarando que isso não representa "de fato" dificuldades ao Fed pois o banco central poderia decidir "atrasar a data de início real" da redução do portfólio.