RIO DE JANEIRO (Reuters) - Economistas ligados aos três principais candidatos à Presidência da República entraram no clima eleitoral faltando duas semanas para a votação e promoveram um verdadeiro bate-boca nesta segunda-feira em uma seminário promovido pela FGV.
O ponto de partida para a troca de farpas foi a discussão em torno do baixo crescimento da economia brasileira no governo Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT.
Marcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, justificou o fraco desempenho da economia colocando a culpa nos efeitos da crise global.
A visão do integrante do governo foi contestada pelo economista Samuel Pessoa, ligado ao candidato do PSDB, Aécio Neves.
Segundo Pessoa, no governo Dilma foram cometidos erros gerenciais e administrativos que inibiram a capacidade de crescimento da economia brasileira.
Para o economista tucano, o governo vem fazendo uma "política de esparadrapos", ou seja, tentando curar problemas de ordem econômica no dia a dia.
"Dizer que a culpa é da crise mundial não faz sentido", afirmou Pessoa.
O economista Marco Bonomo, ligado à candidata Marina Silva (PSB), criticou a falta de independência do Banco Central e a relação com as taxas de juros e inflação. Ele também atacou o expansão dos gastos dos bancos públicos sem o devido retorno para o crescimento da taxa de investimento do país.
"Ouvindo o Marcio falar parece que estamos em outro país, que nada de errado ocorreu e foi tudo maravilhoso. Quando penso no futuro governo, temos uma herança maldita na economia. Falta transparência, não se sabe ao certo o que é contabilidade criativa, pedaladas e não se sabe quais esqueletos virão", afirmou.
A reação de Holland foi imediata, aumentando o tom do debate, que virou um bate-boca.
"O Samuel (Pessoa) ainda acredita em Milton Friedman, que ganhou Nobel de economia em 1968, escreveu bons trabalhos, nos anos 70 teve alguma contribuição, mas de lá para cá houve modernização da teoria econômica muito superior a essa... o Samuel já teve mais rigor científico", afirmou o secretário, causando surpresa na plateia.
"(Bonomo) você não entende as políticas de empréstimo do BNDES. Não temos no Brasil mercado privado de longo prazo para financiar e você diz que os gastos do BNDES são inúteis. Sobre independência do Banco Central... o assunto não é tão trivial como parece. Foi uma apresentação um pouco ingênua", acrescentou, ao citar a falta de dados na explanação do economista ligado à candidata do PSB.
A réplica dos economistas opositores ao governo ganhou contornos de debate eleitoral.
"Imagino que o Márcio (Holland) está numa posição desconfortável. Sempre que a gente está num debate público e enfrenta uma discordância e a forma de enfrentá-la é sugerindo que seu oponente é ignorante ou lê pouco é um sinal que estamos em maus lençóis", afirmou, sob aplausos, o economista tucano, que em tom de provocação encerrou sua participação afirmando que continuará lendo e aprendendo com as teorias econômicas de Friedman.
O economista Marco Bonomo, próximo à Marina, acrescentou que ficou surpreso com a postura de Holland, ex-colega de FGV.
"Eu quando estava fazendo esta apresentação sobre Banco Central independente me lembrei da propaganda da Dilma na TV e me perguntei: será que ele não fica constrangido com programa que diz que banqueiro vai tirar dinheiro das crianças pobres? Confesso que estava bastante errado", afirmou.
Em meio a troca de farpas e acusações, o secretário do governo parou sua defesa para atender uma chamada em seu celular. Holland se ausentou da mesa principal por alguns minutos, o que fomentou brincadeiras e perguntas da plateia se ele ainda permanecia no cargo.
Ao final, Holland disse apenas que se ausentou para atender uma "ligação de trabalho".
(Por Rodrigo Viga Gaier)