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ENTREVISTA - Estados devem rever direitos adquiridos para evitar piora da crise, diz Marcos Lisboa

Publicado 30.11.2016, 18:23
© Reuters. Presidente do Insper, Marcos Lisboa, em entrevista à Reuters em São Paulo

Por Luiz Guilherme Gerbelli e Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - Os Estados precisarão rediscutir os direitos previdenciários dos servidores e as regras de remuneração do setor público para evitar o agravamento da crise econômica, afirmou o presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa.

"Não escaparemos de discutir direitos adquiridos. Será preciso repensar as regras da Previdência dos servidores públicos e as regras de contribuição dos inativos", disse Lisboa em entrevista à Reuters na terça-feira.

A resolução do problema, segundo Lisboa, começa pela identificação do tamanho do déficit atuarial da Previdência dos servidores públicos dos governos estaduais e possíveis fontes de desequilíbrios.

"Afinal de contas, qual é o salário médio do servidor dos diversos Poderes, incluindo todos os benefícios e auxílios? Quantas categorias estão recebendo remuneração muito acima do teto constitucional?", questionou.

"Uma vez entendido o tamanho do problema poderia se discutir como enfrentá-lo para que as contas estaduais se tornem sustentáveis nos próximos cinco, sete anos", acrescentou Lisboa, que foi secretário durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A crise dos Estados não é uma novidade, segundo o presidente do Insper, e já vinha ganhando corpo desde os anos 1990. Nas palavras dele, os governadores não foram responsáveis ao oferecer uma série de benefícios fiscais para empresas e ao conceder elevados reajustes para servidores, mesmo sem recursos em caixa para assumir todas essas obrigações.

"Os governos estaduais venderam um futuro que não tinham e agora estão tendo de enfrentar essa trágica realidade. O desafio é como fazer o ajuste com menos sacrifício para grande maioria e o debate é como a conta vai ser distribuída."

Nas últimas semanas, o governo federal tem buscado acordo com os governadores com o objetivo de aliviar as finanças estaduais. A equipe econômica tenta evitar que a crise dos Estados turve ainda mais o ambiente econômico brasileiro e dificulte a continuidade do projeto de ajuste fiscal, considerado fundamental para que o Brasil volte a crescer.

A situação das contas públicas é bastante crítica. Neste ano, a meta do governo é de déficit primário de 170,5 bilhões de reais e, para 2017, de 139 bilhões de reais.

Ainda em negociações com o governo federal, há resistência por parte dos governadores em fechar acordo com a atual equipe econômica para ajustes fiscais, numa batalha política e jurídica.

"Espero que haja uma mudança nas propostas feitas pelos governos estaduais para que o país enfrente, de fato, com responsabilidade a sustentabilidade das contas públicas. Ou vamos ter uma crise mais grave em 2019", afirmou Lisboa

OTIMISMO EM EXCESSO

Lisboa, que chegou a ser cotado para participar do governo Michel Temer como ministro da Fazenda, acredita que houve excesso de otimismo com a troca da Presidência de Dilma Rousseff para Temer, e prevê que os próximos anos deverão ser de baixo crescimento.

"O problema do Brasil não seria superado apenas com uma troca de governo", afirmou.

© Reuters. Presidente do Insper, Marcos Lisboa, em entrevista à Reuters em São Paulo

Os últimos números da economia têm mostrado que o cenário otimista não se confirmou, com bancos e consultorias piorando projeções para o desempenho do Brasil em 2016 e 2017. No terceiro trimestre, a recessão brasileira aprofundou-se, com recuo do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,8 por cento, marcando o sétimo trimestre seguido de contração e dificultando a retomada da economia em 2017.

Para Lisboa, o Brasil enfrenta uma combinação perversa que reduziu o PIB potencial com lento crescimento da população em idade ativa e a produtividade recuando.

"Imaginar o Brasil voltando a crescer a 3, 4 por cento não é viável sem profundas reformas estruturais."

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