Por Maria Tsvetkova e Jack Stubbs
MOSCOU (Reuters) - A advogada russa que se encontrou com Donald Trump Jr. depois que o pai do empresário obteve a nomeação republicana para disputar as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016 teve o serviço de inteligência russo FSB entre seus clientes durante anos, apontam documentos da Justiça russa vistos pela Reuters.
Os documentos mostram que a advogada Natalia Veselnitskaya representou com sucesso os interesses do FSB em uma disputa legal sobre a propriedade de um prédio de luxo no noroeste de Moscou entre 2005 e 2013.
O FSB, sucessor da KGB da era soviética, foi liderado por Vladimir Putin antes de ele se tornar o presidente russo.
Não há nenhuma sugestão de que Veselnitskaya seja funcionária do governo russo ou de serviços de inteligência, e ela nega ter qualquer ligação com o Kremlin.
Mas o fato de a advogada ter representado o FSB em um processo judicial pode suscitar questões entre alguns políticos dos EUA.
No ano passado, o governo do então presidente norte-americano Barack Obama sancionou o FSB pelo que chamou de fraude nas eleições presidenciais, o que a Rússia nega categoricamente, e Charles Grassley, presidente republicano do Comitê Judiciário do Senado, questionou o motivo da permissão de entrada de Veselnitskaya nos Estados Unidos.
Veselnitskaya não respondeu perguntas enviadas pela Reuters sobre seu trabalho para o FSB. O FSB não respondeu a um pedido para comentar.
A Reuters não conseguiu encontrar um registro de quando e por quem o processo foi apresentado pela primeira vez, embora haja registros de pelo menos 2003. Mas documentos de recurso mostram que a Rosimushchestvo, agência de propriedade do governo federal da Rússia, estava envolvida. A agência não respondeu pedido para comentar.
Veselnitskaya e sua firma Kamerton Consulting representaram a "unidade militar 55002" na disputa de propriedade, mostram os documentos.
Uma lista pública de entidades jurídicas russas mostra que o FSB fundou a unidade militar, cujo endereço jurídico fica atrás da sede do próprio FSB.
A Reuters não conseguiu estabelecer se Veselnitskaya fez qualquer outro trabalho para o FSB ou confirmar quem agora ocupa o prédio citado no caso.
O filho mais velho do presidente Donald Trump concordou em junho de 2016 em se encontrar com Veselnitskaya, que lhe disseram ser uma advogada do governo russo que poderia ter informações prejudiciais sobre a rival democrata de seu pai, Hillary Clinton, de acordo com emails divulgados pelo próprio Trump Jr.
Veselnitskaya afirmou, após a revelação do encontro, ser uma advogada privada e nunca ter obtido informações prejudiciais sobre Hillary. A porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que ela "não tem nada a ver conosco".
Veselnitskaya também disse que está pronta para testemunhar no Congresso dos Estados Unidos para acabar com o que chamou de "histeria em massa" sobre seu encontro com Trump Jr.
(Reportagem adicional de Polina Nikolskaya, Gleb Stolyarov e Darya Korsunskaya, em Moscou)