Bogotá, 18 mar (EFE).- A eliminação de dinheiro mediante a digitalização dos bancos é fundamental para evitar casos de corrupção como o da Odebrecht, disseram à Agência Efe diretores da Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban), ao estimar que as entidades que não se transformarem desaparecerão nos próximos anos.
"Os bancos da região estão trabalhando para chegar a zero nas transações com dinheiro para que casos como o da Odebrecht não ocorram ou sejam rapidamente descobertos", explicou à Efe o secretário-geral da Felaban, Giorgio Trettenero.
O economista peruano se referiu à construtora brasileira Odebrecht, que admitiu que recorreu ao suborno para ganhar licitações públicas em vários países latino-americanos, e afirmou que é "uma pena que este caso tenha sido revelado por um delator e não descoberto pela Justiça".
"Queremos que este tema se reduza a zero. Os corruptos não poderão fazer nada com o dinheiro nas mãos se ninguém o receber", indicou o diretor em Bogotá, onde termina hoje uma reunião dos presidentes das associações bancárias da região e outros representantes do setor.
Um relatório divulgado na semana passada pela organização afirma que, "apesar da maior disposição de meios digitais, o uso de dinheiro cresce a uma taxa de 10% anual de média na América Latina", embora em países como o Uruguai tenha ocorrido grandes avanços para sua redução.
A ideia da Felaban é que "não seja possível fazer compras de imóveis com dinheiro, que não sejam feitos movimentos de caixa para comprar empresas, que tudo passe pelo sistema financeiro, porque uma vez lá, as unidades anticorrupção podem detectar fluxos irregulares e pedir explicações".
Segundo documentos publicados em dezembro pelo Departamento de Justiça dos EUA, a Odebrecht pagou US$ 788 milhões em comissões ilegais por mais de 100 projetos em 12 países da América Latina e África.
"Nosso banco está convencido e não apoia o tema da corrupção. A solução é que tudo passe por um sistema que seja negociável e se alguém fizer algo indevido, que fique evidenciado e tenha que justificar", sustentou.
O dominicano José Manuel López Valdés, presidente da Felaban, manifestou à Efe que "os bancos prestam toda a colaboração com as autoridades sempre em cumprimento com as leis de sigilo bancário e confidencialidade, mas são os entes investigativos os que devem determinar quem são os responsáveis".
Para Trettenero, a digitalização dos bancos, além de aumentar a transparência das operações financeiras, economizará custos ao sistema e aumentará o acesso de pessoas de baixos ingressos ou de populações afastadas.
O economista, que acredita que as entidades que não se transformarem "sairão do mercado em cinco anos", afirmou que os bancos da região apostam grandes recursos para dar um giro pensando em novos métodos de pagamento, migrar seus serviços ao âmbito online e otimizar sua "big data" (análise de dados para tomar decisões empresariais).
"Poder pagar com um telefone, sem usar dinheiro, é mais fácil e reduzirá os roubos", insistiu o diretor da Felaban, organização que agrupa cerca de 600 bancos através de suas respectivas associações em 19 países da região.