Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - O financiamento imobiliário com recursos da poupança no Brasil voltou a cair forte em 2016, refletindo a demanda debilitada por desemprego e juros altos, mas a expectativa do setor para este ano é de lenta recuperação.
Os empréstimos concedidos pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) no ano passado para compra e construção de imóveis totalizou 46,6 bilhões de reais, queda de 38,3 por cento ante 2015 e o menor nível desde 2009, informou nesta terça-feira a Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
O mercado imobiliário como um todo só não teve desempenho pior porque o financiamento ao setor com recursos do FGTS cresceu 18,5 por cento no ano passado, a 64 bilhões de reais, superando o SBPE, o que não acontecia desde pelo menos 2005.
Os dados vêm na esteira dos saques na caderneta de poupança, a principal fonte de financiamento imobiliário no país nos últimos dois anos. Em 2016, os resgates líquidos na aplicação somaram 40,7 bilhões de reais, isso após saída de 53,6 bilhões no ano anterior.
Segundo o presidente da Abecip, Gilberto de Abreu Filho, com o cenário de queda da inflação e consequentemente dos juros, a tendência é que o mercado deve se estabilizar neste ano, com o financiamento pelo SBPE podendo até crescer 5 por cento.
"Não vai ser um ano de grandes rompantes no mercado, mas podemos começar a ver uma reação moderada", disse o executivo a jornalistas durante apresentação dos dados.
Segundo ele, em média, o juro cobrado pelos bancos para financiar a compra de imóveis já está ao redor de 10,5 por cento, ante 11,5 por cento em 2016, o que deve estimular a tomada de empréstimos pelas famílias.
Além disso, pontuou Abreu Filho, a queda nos preços dos imóveis deve contribuir para aumentar a demanda. O índice da Abecip IGMI-R apontou queda de 2,47 por cento nos preços de imóveis residenciais no país em 12 meses até novembro.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Para construtoras e incorporadoras, no entanto, 2017 promete ser um ano tão ou mais difícil do que os anteriores, dado os elevados volumes de dívida bancária acumulados.
Para Abreu Filho, o volume de lançamentos deve ficar estável em relação ao ano passado, com as construtoras ainda se concentrando em se livrar do excesso de estoques.
E apesar dos sinais de lenta recuperação da economia, isso não virá a tempo de livrar algumas empresas do setor de pedir recuperação judicial.
"Esperava-se que as construtoras conseguissem resolver dívida bancária gerando caixa, o que, em alguns casos, não aconteceu", disse. No primeiro semestre, algumas poderão ir para recuperação (judicial)", adicionou, sem citar nomes.
Em setembro, a construtora Viver pediu recuperação judicial, num processo envolvendo dívidas de cerca de 1 bilhão de reais.