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Governo brasileiro embarga exportação de gás lacrimogêneo para Venezuela, dizem fontes

Publicado 19.06.2017, 15:44
© Reuters. Manifestante chuta granada de gás lacrimogêneo durante manifestação contra o governo de Nicolas Maduro,  em Caracas

Por Rodrigo Viga Gaier e Alonso Soto

RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro decidiu intervir na exportação de bombas de gás lacrimogêneo para a Venezuela, negociada por uma empresa com sede no Rio de Janeiro, e embargou a venda por causa das sucessivas mortes em protestos contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disseram nesta segunda-feira à Reuters duas fontes próximas à decisão.

O embargo à exportação de cerca de 80 mil bombas de gás pela empresa Condor Tecnologias Não-Letais foi uma decisão tomada em conjunto pelos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, uma vez que esse tipo de venda depende de aprovação do governo brasileiro, de acordo com as fontes, que falaram sob condição de anonimato.

"O governo decidiu acatar um pedido dos oposicionistas porque há um massacre na Venezuela", disse uma das fontes, acrescentando que nos próximos dias deve haver uma reunião do governo brasileiro para discutir o embargo às exportações de armas letais e não letais à Venezuela.

A outra fonte, uma autoridade graduada do governo brasileiro, disse que as exportações de outros equipamentos para controle de multidões também serão vetadas.

O envolvimento do Ministério de Relações Exteriores ressalta o papel da questão diplomática na decisão, uma vez que normalmente apenas as Forças Armadas são responsáveis por autorizar exportações de "produtos controlados" como bombas de efeito moral, balas de borracha, sprays de pimenta e gás lacrimogêneo produzidos pela Condor.

O líder oposicionista Henrique Capriles comemorou a decisão do Brasil de negar o embarque do material e ressaltou que poucos países ainda continuam fornecendo equipamento de choque ao governo de Maduro para controlar os protestos.

"(O Brasil) fez absolutamente a coisa certa ao negar permissão para o envio", disse Capriles à Reuters. "Estamos trabalhando com os outros... A China parece ser a única (exceção)".

Um parlamentar da oposição venezuelana afirmou que o Legislativo conseguiu aprovar acordos que envolvem solicitações a outros países para que não vendam "material para a repressão na Venezuela". "Descobrimos que havia negociações avançadas para a compra de material no Brasil e fizemos uma denúncia pontual", disse o deputado Jorge Millán.

Adversários do presidente venezuelano vêm organizando marchas e protestos há mais de dois meses que são rotineiramente interrompidos por soldados e policiais, o que tem resultado em confrontos que já deixaram ao menos 72 mortos.

Os críticos de Maduro o acusam de comandar uma ditadura, enquanto o governo da Venezuela diz que os protestos são um esforço para derrubar o presidente e culpa a oposição por dezenas de mortes.

Questionado pela Reuters na sexta-feira sobre a negociação da Condor com as Forças Armadas venezuelanas para exportação das bombas de gás lacrimogêneo, o Ministério da Defesa brasileiro disse em resposta por email que as "cargas não foram embarcadas", sem explicar o motivo.

A Condor, por sua vez, disse também por email na sexta-feira que tem atualmente dois contratos em vigor com a Venezuela, sem detalhá-los.

Perguntados nesta segunda-feira sobre a informação obtida pela Reuters do embargo à exportação, o ministério e a empresa não responderam de imediato.

As exportações da Condor já tinham chamado a atenção nos últimos anos depois que seus produtos foram utilizados para reprimir manifestações em países como Turquia e Barein.

© Reuters. Manifestante chuta granada de gás lacrimogêneo durante manifestação contra o governo de Nicolas Maduro,  em Caracas

A empresa disse na sexta-feira que não faz julgamentos sobre seus clientes e alertou que bloquear suas exportações "poderá ter consequências dramáticas, posto que não restará alternativa às forças de segurança locais a não ser o uso de armas de fogo".

(Reportagem adicional de Brad Haynes, em São Paulo, e Andrew Cawthorne e Corina Pons, em Caracas)

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