Ingrid Haack.
Atenas, 12 dez (EFE).- A Grécia livrou-se em 2018 da lupa constante de seus credores com a conclusão do seu terceiro pacote de resgate financeiro, que pôs fim a oito anos de assistência da União Europeia e uma rigorosa austeridade que deixaram o país empobrecido e com uma sociedade ainda mais desiludida.
Durante esse período, a Grécia recebeu 256,6 bilhões de euros, dinheiro usado principalmente para pagar a dívida e sanear bancos europeus, sobretudo franceses e alemães, mas não para reformas estruturais ou para a sociedade.
Nestes oito anos, a economia tinha perdido um quarto de sua força, e a população, 40% de seu poder aquisitivo.
Os aposentados, cuja renda caiu 40% durante a crise, se transformaram no sustento de suas famílias, e mais de meio milhão de jovens deixaram o país em busca de oportunidades no exterior.
Assim, 20 de agosto de 2018 não foi exatamente um dia para grandes comemorações.
Além da depressão generalizada entre a população, poucas semanas antes o país viveu uma tragédia: os devastadores incêndios florestais na região de Ática deixaram quase 100 mortos.
Apesar de tudo, o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, que nos três anos e meio de governo se transformou de "menino rebelde" a melhor aluno dos credores, tentava dar novo otimismo à população, recuperando a estratégia utilizada pelo seu antecessor, o conservador Antonis Samaras, de descrever a boa evolução econômica do país.
Tsipras aproveita a ocasião para ressaltar que a economia entrou novamente no caminho do crescimento e lembrar que o desemprego caiu nos últimos anos - de 27%, no auge, para 19% atualmente.
Assim que o terceiro resgate foi concluído, o líder da coalizão Syriza começou a recuperar o discurso esquerdista que em 2015 o levou a assumir o governo.
Para o ano que vem, Tsipras não só anunciou uma série de medidas de alívio social, mas também obteve sinal verde de Bruxelas para não aplicar o corte nas aposentadorias assinado com os credores e já aprovado no Parlamento.
O ano de 2019 virá com múltiplos processos eleitorais, entre eles as eleições legislativas, nas quais Tsipras tentará a reeleição, por enquanto com poucas chances, de acordo com as pesquisas, que dão à Nova Democracia, de Kyriakos Mitsotakis, uma ampla vantagem.
O atual governo comprometeu-se a conseguir superávit primário de 3,5% até 2022 e uma média de 2% até 2020, números que só são críveis com uma constante contenção dos gastos públicos, o que complica ainda mais a expansão econômica e deixa a margem de manobra do governo limitada.
Ciente destas limitações, Tsipras tenta agora recuperar outra de suas grandes promessas eleitorais, a de desenvolver uma ampla reforma constitucional, dedicada a construir uma nova Grécia mais democrática e aberta à opinião do povo, que amplie os referendos, reforce o controle parlamentar e limite o mandato dos deputados e chefes de governo.
Mas este caminho também está repleto de espinhos. A reforma em questão requer o apoio de três quintos dos membros do Parlamento, e a oposição conservadora já deu a entender que não está disposta a apoiar o projeto governamental, muito menos em ano eleitoral.