Por Ed Stoddard
KROMDRAAI, África do Sul (Reuters) - Cientistas revelaram nesta terça-feira os primeiros indícios de que humanos primitivos coexistiram com uma espécie de cérebro pequeno semelhante à humana 300 mil anos atrás na África, que se acreditava já estar extinta no continente à época.
As descobertas, publicadas em três estudos no periódico científico "eLife", despertaram novas indagações sobre a evolução humana, inclusive a possibilidade de que comportamentos antes atribuídos aos humanos podem ter sido desenvolvidos por homininis precursores do Homo sapiens.
Os hominins são um grupo extinto do mesmo gênero dos humanos, os únicos membros sobreviventes dessa categoria atualmente. Os chimpanzés e gorilas, os parentes vivos mais próximos do homem, estão biologicamente mais distantes do Homo sapiens do que os homininis.
A espécie em questão é a Homo naledi, assim batizada em 2015 depois que um local rico em fósseis foi descoberto perto de Sterkfontein e Swartkrans, na África do Sul.
Estes verdadeiros baús do tesouro, localizados cerca de 50 quilômetros a noroeste de Johanesburgo, ofereceram peças para o quebra-cabeça da evolução humana durante décadas.
Inicialmente os cientistas pensaram que a anatomia do Homo naledi indicava que os fósseis poderiam ter até 2,5 milhões de anos de idade e ficaram surpresos com os indícios que sugeriam que a espécie pode ter enterrado seus mortos, uma característica que há muito se acredita ser exclusividade dos humanos.
Mas a datação de sedimentos nos quais os fósseis foram encontrados e de dentes de espécimes mostraram que a espécie percorreu áreas rurais da África entre 236 mil e 335 mil anos atrás, aproximadamente na época em que os humanos modernos estavam emergindo.
"Ninguém imaginou quem um hominini de cérebro pequeno, primitivo, poderia se estender tanto ao longo do tempo, e este período é exatamente o momento em que acreditamos que os humanos modernos estavam surgindo aqui na África", disse Lee Berger, líder de projeto da Universidade de Witwatersrand de Johanesburgo.
Berger disse que a datação pode obrigar os cientistas a repensarem sua compreensão da emergência de novas tecnologias naquela época, como a produção de ocre e de trabalhos com contas para adornos.
Existem indícios arqueológicos deste período, mas pouco no que diz respeito a fósseis que poderiam indicar exatamente quem produziu tais coisas.
"Agora que sabemos que humanos modernos, ou ao menos as primeiras formas destes, não estavam sozinhos durante esta expansão da caixa de ferramentas, isso nos leva a obter indícios cada vez melhores para dizer quem fez o que", explicou Berger à Reuters.
A dúvida sobre quando o Homo naledi se extingiu, e por que, continua sem resposta, disse.