BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, reforçou nesta quinta-feira a mensagem de que o BC poderá repetir o corte da Selic em 1 ponto percentual em sua próxima reunião e fez uma defesa enfática da Taxa de Longo Prazo (TLP), que substituirá a TJLP nos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em conferência organizada pelo banco Goldman Sachs, Ilan afirmou que olhando para o passado não deveria se estranhar que a TLP oscile em torno da Selic, dado que a Selic é próxima, ou um pouco abaixo, do custo de oportunidade do Tesouro. Mas sublinhou que o "olhar para o passado é enganoso".
"É importante destacar, olhando para o futuro, que a melhor dinâmica fiscal com subsídios menores e mais previsíveis diminuirá o risco Brasil associado às taxas de juros no Brasil", disse Ilan, conforme apresentação divulgada no site do BC.
"Além disso, a maior potência da política monetária fará a economia mais estável. Em particular, a inflação e a taxa de juros básica serão menos voláteis, reduzindo risco dos juros advindos da incerteza econômica", acrescentou.
Em apresentação recente, o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto, apontou que a aplicação da TLP em cálculo retroativo ilustra a volatilidade excessiva da taxa, que teria ficado acima da taxa básica de juros na maior parte do tempo caso tivesse sido implementada em 2004.
A partir do exercício da IFI, que é ligada ao Senado, novas discussões entre economistas sobre a TLP vêm ganhando corpo.
Nesta quinta-feira, Ilan também defendeu que a TLP ajudará a proteger os recursos do trabalhador no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
"O FAT tem apresentado déficit da ordem de 18 bilhões de reais por ano, sendo que a TLP garantirá maior rentabilidade aos recursos do fundo, lhe aportando cerca de 15 bilhões de reais por ano", disse.
Pela proposta original do governo, a TLP seria composta pela variação da inflação medida pelo IPCA e por taxa de juros real prefixada de acordo com o equivalente ao rendimento real das Notas do Tesouro Nacional–Série B (NTN-B).
A ideia é que em 1º de janeiro do ano que vem, a TLP seja igualada à TJLP vigente e, a partir daí, a nova taxa siga sua sistemática própria, para em cinco anos convergir gradualmente para remuneração integral da NTN-B.
PRÓXIMOS PASSOS
Em relação à condução da política monetária, Ilan voltou a dizer que a manutenção do ritmo da queda da taxa de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro, dependerá da permanência das condições descritas no cenário básico e de estimativas da extensão do ciclo, em meio ao forte processo de desinflação em curso e da retomada ainda anêmica da economia.
No fim de julho, o BC cortou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, a 9,25 por cento ao ano, mantendo o ritmo de afrouxamento e sugerindo que poderá repetir a dose daqui para frente.
Um dia após a Câmara dos Deputados ter rejeitado a denúncia contra o presidente Michel Temer pelo crime de corrupção com o apoio de pouco mais da maioria absoluta dos parlamentares, Ilan disse que as condições econômicas se mantiveram apesar do impacto sobre os índices de confiança do aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia.
"Isso permitiu a manutenção do ritmo de estabilização e recuperação gradual da economia, a manutenção do comportamento favorável da inflação e a continuidade do ritmo da flexibilização da política monetária", afirmou.
(Por Marcela Ayres)