Por Dion Rabouin, Maiya Keidan e Corina Pons
NOVA YORK/LONDRES/CARACAS (Reuters) – Os esforços da Venezuela para reestruturar sua dívida desencadearam uma fuga inicial de investidores, mas alguns fundos estão mantendo seus portfólios e até os reforçando por apostar que a preocupação de alguns pode significar oportunidades para outros.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, assustou os detentores de títulos neste mês ao anunciar planos para reestruturar cerca de 60 bilhões de dólares em títulos enquanto seu governo luta contra uma crise econômica provocada por anos de má administração.
Mas Maduro também disse que o país continuará honrando suas obrigações por ora – o que deu algum conforto a investidores que detêm títulos podres, alguns dos quais estão contentes de lucrar com os juros imensos que estes rendem.
Outros estão se preparando para grandes lucros imprevistos semelhantes aos que um grupo de credores da Argentina obteve no ano passado depois de mais de uma década de litígio com o governo.
Autoridades de alto escalão da Venezuela não esclareceram qual será a estratégia da nação durante uma reunião curta e confusa com credores na capital venezuelana na semana passada.
Neste meio tempo, os credores vêm organizando teleconferências, realizando reuniões improvisadas em hotéis de Caracas e debatendo a criação de grupos que poderiam representar detentores de títulos no caso de um calote.
Diego Ferro, co-diretor do escritório de investimento da Greylock Capital, que se concentra em papéis de grande retorno e alto risco, disse que nas últimas semanas vem comprando tanto títulos emitidos por Caracas quanto os vendidos pela estatal petroleira PDVSA, dando preferência aos títulos venezuelanos com vencimento em 2027.
Estes e os da PDVSA têm uma característica em comum: carecem de uma cláusula que possa obrigar os detentores de títulos a aceitarem um pacto de reestruturação contanto que 75 por cento deles assinem o acordo.
A ausência de tais cláusulas de ação coletiva pode permitir a um grupo pequeno de investidores esperar termos melhores, como aconteceu depois que a Argentina deu um calote em 2001.
Mas uma solução parecida com a argentina é, na prática, impossível no curto prazo. As sanções impostas à Venezuela pelo governo do presidente norte-americano, Donald Trump, neste ano em reação às acusações de que Maduro está estabelecendo uma ditadura impedem bancos dos EUA de adquirirem novos títulos da dívida venezuelana.
(Reportagem adicional de Brian Ellsworth)