Por Giuseppe Fonte e Valentina Za
MILÃO (Reuters) - O governo italiano espera que a Comissão Européia decida na próxima terça-feira pela primeira vez pedir a um Estado-membro que reveja seu orçamento, disse uma fonte do governo neste domingo.
A Comissão classificou o plano orçamentário de 2019 da Itália como uma violação sem precedentes das regras fiscais da União Europeia, uma vez que o país visa elevar o déficit de 1,8 para 2,4 por cento da produção doméstica no próximo ano.
Desde que recebeu em 2013 mais poder em relação aos planos orçamentários dos Estados membros, a Comissão nunca pediu a um país que apresentasse uma revisão de orçamento.
A dívida pública italiana de 2,3 trilhões de euros (ou 2,65 trilhões de dólares), uma das maiores do mundo, torna o país vulnerável e uma fonte potencial de contágio para outros países da zona do euro.
Os investidores perderam 67 bilhões de euros em títulos italianos desde que foi formado um governo populista em maio, aumentando em 3,4 pontos percentuais o prêmio de risco que a Itália paga por um papel alemão, o nível mais alto nos últimos 5 anos e meio.
A fonte afirmou que o ministro da Economia, Giovanni Tria, e o primeiro-ministro Giuseppe Conte pressionaram sem sucesso por uma redução da meta do déficit de 2019 em uma reunião de gabinete no sábado.
A fonte não descartou que um acordo para reduzir a meta do déficit possa ser selado durante um período de três semanas de negociações com Bruxelas que se seguirão à decisão da comissão.
Embora a decisão seja esperada na terça-feira, a fonte do governo italiano disse que ela pode não ser anunciada no mesmo dia.
Solicitado para comentar o assunto, um porta-voz da UE disse que a Comissão expressou suas "sérias preocupações" sobre o projeto de orçamento para as autoridades italianas, pedindo esclarecimentos até o meio-dia de segunda-feira para facilitar uma avaliação.
Mais cedo neste domingo, o vice-primeiro-ministro Luigi Di Maio disse que o governo está trabalhando na carta que enviará à Comissão na segunda-feira, acrescentando que espera uma reação rápida.
Di Maio, que lidera o movimento anti-establishment 5 Estrelas, disse à televisão estatal da RAI que espera que as explicações fornecidas por Roma "durante um longo processo de discussão... possam levar a Comissão a compartilhar as metas que definimos".
Depois de se irritar com as medidas de austeridade adotadas pela Itália em resposta à crise da zona do euro de 2011-2012, a coalizão governista italiana, que também inclui o partido de extrema direita 5 Estrelas, quer reduzir a idade de aposentadoria e fornecer uma renda básica para os pobres.
Na sexta-feira, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou a dívida da Itália para um nível acima do status de "lixo financeiro", alegando preocupações com os planos orçamentários do governo.