Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rompeu com o líder do governo na Casa, Vitor Hugo (PSL-GO), nesta terça-feira durante reunião do colégio de líderes da Câmara, confirmaram duas fontes, num momento em que a gestão de Jair Bolsonaro patina em organizar sua base para a votação de medidas importantes, como a reforma da Previdência.
O presidente da Câmara, que já não nutria simpatia pelo líder e não o recebia em seu gabinete, irritou-se com postagem do deputado em rede social de uma charge que insinua que o “diálogo” seria equivalente a um parlamentar com dinheiro.
A imagem teria circulado enquanto Maia estava em viagem no exterior, o que teria aumentado sua irritação, razão pela qual o presidente esperou a reunião de líderes acabar para tocar no assunto, afirmando que precisava se posicionar publicamente em resposta à charge divulgada por Vitor Hugo.
Maia argumentou que se o líder do governo, que foi servidor da Casa, considera que o diálogo seja semelhante ao insinuado pela imagem divulgada, não haveria porque manter conversas com ele.
O presidente da Câmara, então, anunciou o rompimento de relações pessoais com o líder do governo.
Vitor Hugo ainda tentou argumentar, lembrou que Maia não o recebia, e que só conseguia contato com o presidente da Câmara por meio de ministros. Reclamou, mas não desmentiu a distribuição da imagem ou pediu desculpas.
O clima da reunião pesou, os demais líderes mantiveram um momento de silêncio após o anúncio do presidente.
Ainda segundo o relato de uma das fontes, que acompanhou a reunião, o governo foi o alvo preferencial dos ataques na reunião desta terça-feira da maioria dos presentes. Integrantes do centrão, da oposição e o próprio Maia não pouparam críticas ao Executivo.
Uma liderança que também participou da reunião afirmou que o clima, dentre os parlamentares, é de indignação com o governo por se pautar pelas redes sociais. A avaliação dessa liderança é que não há projeto e que a gestão tem sido desastrada com as idas e vindas do presidente nas decisões que toma.
Deputados acertaram ainda, na reunião, que tentarão votar duas medidas provisórias que tratam do setor aéreo nesta terça-feira. Na quarta, a expectativa é de votação da MP que modifica a estrutura dos ministérios. A oposição, no entanto, promete obstruir as votações.
As três propostas são de interesse do governo, mas é quase uníssono no Congresso o discurso de que os parlamentares se dedicarão à análise das matérias por responsabilidade com o país, e não por vontade do Palácio do Planalto.
O Parlamento vem, cada vez mais, desenhado um movimento de descolamento do governo. A palavra da vez, entre os parlamentares, é de protagonismo do Congresso, que agirá na ausência de uma atuação do governo.