Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, reforçou nesta sexta-feira seu compromisso com o tripé macroeconômico e com a autonomia formal do Banco Central, mas foi mais vaga ao falar de outros temas econômicos, como de onde virá o financiamento para propostas para a saúde e qual o ajuste fiscal que pretende fazer se eleita.
Falando a jornalistas após o lançamento de seu programa de governo, Marina disse que a situação de recessão que o país está enfrentando "é muito preocupante" e que "é preciso um esforço para recuperar a credibilidade".
Para a candidata do PSB, um dos pontos para a recuperação dessa credibilidade está na institucionalização da autonomia do Banco Central, prevista no seu programa de governo, reiterando também seu compromisso com a rigidez fiscal.
Mas ao ser indagada sobre como financiaria propostas como o investimento de 10 por cento do Produto Interno Bruto na saúde, ela disse, sem dar detalhes, que os recursos virão da "eficiência fiscal", além do combate à corrupção e de uma reforma tributária.
A candidata também evitou ser direta quando questionada sobre se pretende acabar com o Fator Previdenciário, mecanismo que reduz o valor das aposentadorias.
"O Fator Previdenciário está colocado no nosso programa como algo que precisa ser revisitado", disse. "Nosso esforço é que a gente possa fazer o ajuste fiscal... exatamente para que não tenha de fazer em prejuízo da sociedade."
Marina também não disse se pretende reajustar os preços administrados que têm sido represados pelo governo, como gasolina e energia.
Ela afirmou esperar que o governo atual, da presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição, faça isso. "Nós esperamos que o governo tenha responsabilidade de fazer (o reajuste)."
A ex-senadora apresentou seu programa de governo de 124 páginas a uma plateia de aliados e terminou seu discurso em grande estilo, empolgando a plateia.
"O povo brasileiro que elegeu um acadêmico, que elegeu um operário, há de eleger uma professora que veio de um seringal da Amazônia e que tem a marca da floresta, mas que aprendeu a viver nos dois mundos", disse, sob fortes aplausos à ex-senadora.
Nesta noite, pesquisa Datafolha mostrou Marina empatada com Dilma na liderança do primeiro turno e derrotando a presidente por 10 pontos de vantagem num segundo turno entre as duas.
APROXIMAÇÃO COM O AGRONEGÓCIO
Marina esteve na quinta-feira em um evento do setor de cana no interior de São Paulo e, nesta sexta, se reunirá em jantar a portas fechadas com integrantes do agronegócio, setor com que teve relação atribulada na época em que foi ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Questionada sobre esta aproximação, a candidata do PSB negou ter problemas com o agronegócio e lembrou que era a terceira vez que ia à feira do setor sucroalcooleiro, em Sertãozinho, mas que nas outras vezes a imprensa não se interessou em acompanhá-la.
Sobre o jantar desta sexta, ela explicou que foi organizado por João Paulo Capobianco, que foi secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e que é uma das maiores vozes ambientalistas de seu grupo político.
REFORMA POLÍTICA E ESTADO LAICO
A candidata do PSB defendeu ainda a necessidade de uma reforma política e disse que "governar com os melhores é governar em cima de propostas".
Ela disse que não teria a "pretensão" de propor um modelo fechado de reforma política, mas afirmou que algumas ideias, como as candidaturas avulsas, servirão como ponto de partida para o debate com a sociedade.
Sobre a Lei da Anistia, disse que se trata de uma legislação aprovada e "está como está". Mas observou que a verdade em relação ao período do regime militar precisa ser revelada, o que não significa revanchismo.
Marina, que é evangélica, foi questionada ainda sobre temas como casamento entre pessoas do mesmo sexo, aborto e legalização da maconha.
Ela disse que é pessoalmente contra o aborto e que seu programa de governo defende a manutenção da legislação atual. E defendeu um debate sobre a legalização da maconha.
"O nosso compromisso é que os direitos civis das pessoas sejam respeitados", respondeu ela em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. "Temos a clareza da defesa do Estado laico."