SÃO PAULO (Reuters) - Um dia após a presidente Dilma Rousseff (PT) ser reeleita numa disputa acirradíssima, o presidente do partido, Rui Falcão, disse que a legenda não determina quem deve ser ministro e que não se oporia a um ministro da Fazenda que não fosse petista.
"O governo não manda no partido e o partido não controla o governo", disse Falcão a jornalistas na sede do PT, em São Paulo, nesta segunda-feira.
"É natural que a gente seja ouvido (sobre o novo ministro da Fazenda). Se for um quadro (externo) preparado e leal ao programa de governo que a maioria do povo brasileiro aprovou, não haveria restrição", disse, perguntado sobre a possibilidade de um nome de fora do partido, inclusive do mercado financeiro.
"Sempre preferimos que seja um quadro partidário, mas o fundamental é que as linhas gerais da política econômica, tal como estejam sendo praticadas, sejam mantidas", acrescentou.
Perguntado se a presidente faria um gesto em direção ao mercado financeiro, disse não ter conversado com ela sobre isso no domingo. "Não sei se ela vai fazer essa sinalização", afirmou, negando que não goste do mercado financeiro. "Temos um mercado muito mais amplo, que é o de consumo."
Durante a campanha, Dilma disse que o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixará o cargo num segundo mandato, a pedido dele por motivos pessoais.
Nesta segunda-feira, Mantega afirmou a jornalistas que o governo fará o melhor resultado fiscal possível neste ano e buscará um esforço maior em 2015. A afirmação ocorre em meio a um cenário em que os dados fiscais vêm se deteriorando a cada mês.
Mantega disse ainda que a política econômica do governo da presidente será mantida e reforçada.
Indagado sobre qual nome para ocupar a Fazenda reuniria as credenciais capazes de ajudar a recuperar a confiança de empresários e investidores na economia, Mantega disse que "essa pergunta tem que ser feita à presidente".
"Na verdade estou aqui apresentando as políticas, porque para além dos nomes existem as políticas", disse Mantega.
REFORMA POLÍTICA E MÍDIA
Falcão também tratou da reforma política na entrevista. Segundo ele, há a disponibilidade de diálogo nesse processo, que não excluiria a possibilidade de um plebiscito questionando a criação de uma constituinte exclusiva para definir a reforma política --uma das ações possíveis levantadas pelo governo no auge das manifestações populares de junho de 2013, mas que foi pesadamente criticada por analistas e adversários.
Falcão se mostrou descrente, contudo, dessa movimentação partir exclusivamente do Congresso Nacional. "Só vamos obter a reforma política, especialmente com o plebiscito, com mobilização dos movimentos sociais, só com o Congresso Nacional é praticamente impossível."
Ele acrescentou que não há um projeto fechado de reforma política, que a perspectiva de diálogo abre espaço para mudanças e que já existe uma proposta da presidente no Congresso com 189 assinaturas para que possa ser elaborado um decreto legislativo que convoque o plebiscito.
"Dilma, ontem, como uma das primeiras palavras do discurso, disse que quer dialogar muito com a sociedade. Creio que também em relação a reforma política ela vai dialogar", disse Falcão.
Outro tema abordado pelo presidente do PT foi a democratização da mídia nos serviços de radiofusão, que, para o partido, é uma das reformas fundamentais que devem ser feitas no segundo mandato de Dilma.
Ao detalhar no que consistiria esse processo, bandeira antiga do PT criticada pelos adversários como estratégia do partido para ter maior controle sobre o setor, Falcão garantiu que o partido "defende ferrenhamente a liberdade de expressão e pensamento", mas que a Constituição não está sendo seguida.
"A Constituição prevê, no seu artigo 220, a mais ampla liberdade de expressão e pensamento, que nós defendemos ferrenhamente, como cláusula pétrea da democracia brasileira", disse. "Agora, o mesmo item que trata da comunicação social proíbe a existência de monopólios e oligopólios de comunicação. Nós, do PT, vamos continuar existindo para regulamentar a Constituição."
"Na Inglaterra, inclusive...até meios impressos estão passando por regulação, mas não é o que defendemos no Brasil", acrescentou.
(Reportagem de Vinicius Cherobino)