Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central indicou em estudo divulgado nesta terça-feira que as reestruturações das operações de cartão de crédito não são tão efetivas, já que só metade dos clientes conseguiram ficar em dia com as contas um ano após terem renegociado suas dívidas.
Em box do Relatório de Economia Bancária, o BC analisou as reestruturações realizadas em dezembro de 2017 para as modalidades de cartão de crédito e crédito imobiliário, as principais em termos de clientes e saldo, respectivamente.
Após um ano, 55% da carteira de cartão de crédito reestruturada estava paga, adimplente ou com atraso inferior a 90 dias, representando 48% dos clientes. No caso do crédito imobiliário, os percentuais são bem superiores: 83% da carteira e 84% dos clientes.
"Esse comportamento pode estar relacionado com o fato de o crédito imobiliário ser de alto volume e envolver uma boa garantia, levando a um maior interesse tanto por parte do tomador quanto da instituição concedente em mantê-lo adimplente", avaliou o BC.
"Porém, a permanência dos tomadores na modalidade cartão de crédito é preocupante dado seu alto custo, que tende a levar ao aumento da inadimplência", completou o BC. "Reforça-se assim a importância de ações de cidadania financeira, alertando para a adequada utilização dessa modalidade de crédito ou sua substituição por outras mais convenientes e menos custosas".
Em 2017, o BC já havia limitado a um mês a possibilidade de permanência no crédito rotativo para os clientes que pagam apenas o valor mínimo da fatura do cartão de crédito. Com a restrição, o saldo remanescente passa a ser financiado em linha de crédito para pagamento parcelado, com juros mais baratos.
Ainda assim, os custos envolvidos são altos: no rotativo, os juros médios anuais são de 299,5% para as pessoas físicas, ao passo que no parcelado são de 178,4%, conforme dados mais recentes do BC.
Nesta terça-feira, o BC ressaltou a importância de se aprofundar o entendimento sobre a reestruturação de dívidas na modalidade cartão de crédito ao assinalar que "grande parte das operações volta a ter problemas (inadimplência, nova reestruturação ou prejuízo) doze meses após a reestruturação".
REESTRUTURAÇÃO TOTAL
De acordo com os dados do BC, o saldo da carteira reestruturada era de 2,9 bilhões de reais em dezembro de 2018, equivalente a 0,15% da carteira ativa total do sistema financeiro nacional, percentual que permaneceu relativamente estável desde dezembro de 2016.
Dos 278 mil tomadores que reestruturam dívidas no último mês do ano passado, 64% tinham dívidas inferiores a 3 mil reais. O saldo reestruturado nessa faixa somou 220 milhões de reais, somente 8% do total reestruturado.