Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuou abaixo de 3,60 reais nesta sexta-feira e fechou no menor nível em mais de seis meses, marcando a quarta semana consecutiva de perdas diante de expectativas cada vez mais fortes de que o governo da presidente Dilma Rousseff estaria chegando ao fim. O movimento veio mesmo após o Banco Central reduzir sua presença no mercado de câmbio
O dólar recuou 1,96 por cento, a 3,5817 reais na venda, menor nível de fechamento desde 27 de agosto de 2015 (3,5528 reais). Com isso, a moeda norte-americana anulou os ganhos na semana, fechando com recuo acumulado de 0,26 por cento. No mês, até agora, a queda é de 10,54 por cento.
"O mercado continua na toada de que o que é ruim para Dilma, é bom para o mercado", disse o operador da corretora B&T Marcos Trabbold.
A comissão especial criada pela Câmara dos Deputados para analisar a abertura do processo de impeachment contra Dilma definiu na véspera indicados para a relatoria e presidência. Nova sessão da comissão foi marcada para a próxima segunda-feira para apresentação dos planos de trabalho.
O processo vem em meio a intensa agitação, tanto no alto escalão da política quanto nas ruas, incendiada após a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi como ministro-chefe da Casa Civil.
A queda do dólar ganhou ainda mais força nesta sessão após o ex-ministro Moreira Franco afirmar em rede social que a reunião do diretório nacional do PMDB marcada para dia 29 decidirá pelo rompimento com o governo.
Além disso, operadores venderam dólares para evitar serem pegos de surpresa por eventuais notícias desfavoráveis ao governo no fim de semana.
Estrategistas do banco BNP Paribas (PA:BNPP) escreveram em nota a clientes que o dólar está um pouco abaixo de seu valor justo, que estimam em 3,759 reais. Segundo eles, o espaço para mais quedas é limitado pela decisão do BC de reduzir o estoque de swaps.
O BC fez nesta manhã leilão de até 3,6 mil swaps, indicando que deve rolar perto de 75 por cento do lote que vence em abril, equivalente a 10,092 bilhões de dólares. Até a sessão passada, vinha ofertando 9,6 mil contratos e, assim, poderia fazer a rolagem integral.
A autoridade monetária vendeu a oferta integral na operação. Com isso, rolou ao todo o equivalente a 6,177 bilhões de dólares, ou cerca de 61 por cento do lote total.
De maneira geral, a estratégia foi recebida bem pelos operadores, que enxergaram na redução da rolagem uma maneira de reduzir o impacto fiscal das intervenções e evitar cotações exageradamente baixas para o dólar.
"A última coisa de que precisam o setor real e os exportadores, que estão se recuperando lentamente, é voltar para uma época de dólar excessivamente desvalorizado", escreveu o diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório.