Por Robin Emmott e Alastair Macdonald
VALLETTA/BRUXELAS (Reuters) - A União Europeia aceitou conversar com o Reino Unido neste ano sobre um pacto de livre comércio futuro, mas deixou claro, em diretrizes de negociação divulgadas nesta sexta-feira, que primeiro Londres precisa concordar com as exigências do bloco quanto aos termos da desfiliação britânica da UE, o chamado Brexit.
Estas incluem o pagamento de dezenas de bilhões de euros e a concessão de direitos de residência a cerca de 3 milhões de cidadãos da UE que vivem no Reino Unido, como mostraram os objetivos de negociação propostos que foram distribuídos pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, aos 27 parceiros britânicos no bloco.
O documento, visto pela Reuters, também estabelece condições rígidas para qualquer período de transição, insistindo que o Reino Unido deve aceitar muitas regras da UE depois de qualquer retirada parcial. Também ficou expresso que a UE não aceita que Londres descarte uma série de impostos e leis ambientais e trabalhistas se quiser um acordo de livre comércio mais adiante.
As diretrizes, que podem ser revistas antes de os 27 líderes as endossarem em uma cúpula no dia 29 de abril, foram entregues dois dias depois de a primeira-ministra britânica, Theresa May, desencadear a contagem regressiva formal de dois anos para a saída britânica em uma carta a Tusk, que incluiu o pedido de um início rápido das negociações de um acordo de livre comércio pós-Brexit.
"Depois, e só depois que tivermos feito progresso na retirada, podemos discutir a estrutura de nosso relacionamento futuro", disse Tusk aos repórteres em Malta – uma concessão entre os líderes linha-dura do bloco, que não querem saber de conversar sobre comércio até o acordo completo do Brexit ter sido acertado, e os clamores britânicos por uma largada imediata nas conversas.
"Iniciar conversas paralelas sobre todos os temas ao mesmo tempo, como sugerido por alguns no Reino Unido, não irá acontecer", afirmou Tusk, mas acrescentando que a UE pode avaliar ainda durante o outono europeu se Londres fez "progresso suficiente" em relação aos termos da separação para se iniciar uma segunda fase das negociações sobre a futura relação comercial.
A União Europeia estima que o Reino Unido pode ficar lhe devendo algo da ordem dos 60 bilhões euros quando se separar, embora diga que a cifra real não pode ser calculada até que o país saia de fato do bloco.
O que a UE de fato quer é combinar a "metodologia" para acertar a "conta do Brexit", levando em consideração a parcela de ações e encargos do bloco que cabem ao Reino Unido – que questiona a fatura –, mas na quarta-feira May disse que Londres irá cumprir suas "obrigações".