Por Ece Toksabay e Tulay Karadeniz
ANCARA (Reuters) - O Parlamento Europeu pediu nesta quinta-feira que as conversas sobre a filiação da Turquia à União Europeia sejam suspensas se Ancara implantar na totalidade os planos para ampliar os poderes do presidente turco, Tayyip Erdogan, em uma votação que a Turquia repudiou e classificou como imprecisa e equivocada.
O Parlamento tem uma influência limitada sobre a ambição turca de décadas de se filiar à UE, atualmente no limbo em razão de discussões acaloradas entre Ancara e alguns países europeus, mas a decisão ressaltou a distância que se desenvolveu entre os dois lados.
Líderes da UE vêm criticando Erdogan e seu comportamento diante de seus opositores, tanto antes quanto depois de um golpe militar fracassado contra ele em julho passado.
Desde então, uma operação repressiva ainda em curso e os novos e abrangentes poderes que Erdogan conquistou em um referendo muito disputado em abril despertaram temores nos aliados ocidentais da Turquia.
Erdogan diz que tanto a repressão quanto os poderes presidenciais ampliados são necessários para enfrentar desafios graves à segurança do país, tanto internamente quanto além de suas fronteiras.
A resolução aprovada pelo Parlamento em Estrasburgo "pede à Comissão e aos Estados-membros... que suspendam formalmente as negociações de filiação da Turquia sem demora se o pacote de reforma constitucional for implementado inalterado".
Algumas mudanças constitucionais aprovadas em abril já foram implantadas –Erdogan conseguiu voltar a liderar o governista Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco), e membros de um organismo judicial de alta instância foram substituídos. Outras medidas, como descartar o posto de primeiro-ministro, devem entrar em vigor dentro de dois anos.
Partidos de oposição e grupos de direitos humanos dizem que as alterações ameaçam a independência do Judiciário e que levam a Turquia rumo a um governo de um homem só. A UE também expressou preocupação, embora muitos no Parlamento Europeu acreditem que o bloco não foi longe o suficiente.
"A estratégia atual da Comissão Europeia e dos líderes da UE parece ser esperar silenciosamente para que as coisas melhorem na Turquia", disse a principal negociadora do Parlamento Europeu para a Turquia, Kati Piri, criticando uma postura que disse estar "alimentando o autoritarismo do presidente Erdogan".
O ministro de Assuntos da UE turco, Omer Celik, disse que Ancara considerou a votação desta quinta-feira em Estrasburgo inválida, e o Ministério das Relações Exteriores manifestou uma rejeição semelhante.
(Reportagem adicional de Tuvan Gumrukcu em Ancara e Elizabeth Miles em Bruxelas)