Investing.com - Em meio a um total de 20 aparições de membros do Federal Reserve (Fed) esta semana, os investidores aguardavam o pronunciamento da presidente, Janet Yellen no Comitê Econômico Conjunto do congresso, às 13h (horário de Brasília) desta quinta-feira para tentar entender a perspectiva da comandante do banco quanto ao futuro da política monetária.
Em seu discurso preparado, cujo pré-divulgação está marcada para às 11h, no horário de Brasília, há grande expectativa de que Yellen siga o roteiro já definido por outros decisores do Fed, sinalizando forte probabilidade de elevação das taxas em 13 e 14 de dezembro, o que rechaça eventuais impactos inesperados na economia americana no próximo mês.
Impacto da eleição de Trump na política do Fed é nulo
Diversos presidentes do Fed, desde a eleição surpreendente do republicano Donald Trump à presidência dos EUA em 8 de novembro, comentaram que o resultado não produz efeito imediato na postura política do órgão.
Imediatamente após a divulgação dos resultados da eleição, o presidente do Fed de São Francisco, John Williams declarou que "não vê mudança na abordagem da política monetária."
"Ela é basicamente determinada pelos dados", explicou ele.
Ainda sobre essa questão, há incerteza sobre que tipo de políticas o presidente eleito poderá efetivamente implementar quando assumir o cargo.
"As expectativas de algum tipo de mudança na política fiscal provavelmente se elevaram, mas não conhecemos o momento de aplicação nem a forma dessas políticas, se é voltada a imigração ou reforma tributária, investimento em infraestrutura ou política comercial", declarou a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, no fim desta quarta-feira.
No início da semana, o líder do Fed de Dallas, Robert Kaplan teceu comentários na mesma linha:
"Há algumas possíveis políticas que seriam positivas para o PIB, há outras que podem ser negativas, e eu nem o país sabe quais são."
Em meio a essa incerteza, o Fed indicou claramente que monitorará a situação e a reação da economia, em vez de atuar com base em especulações.
Na última sexta-feira, o vice-presidente do Fed, Stanley Fischer, afirmou: "É claro que vamos observar eventos e, dependendo de como o mercado e a economia se saírem, vamos ajustar nossa política de acordo com o necessário."
"Não queremos puxar os freios com mais força do que o necessário", comentou o diretor do Fed, Daniel Tarullo, na terça-feira.
"Deem à administração tempo para propor seu programa e ao congresso para decidir", sugeriu.
De acordo com o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, todo novo gasto em infraestrutura e mudanças tributárias ou normativas não afetariam o crescimento até 2020.
Sendo assim, Yellen provavelmente deve seguir os comentários dos colegas e reiterar que o banco central americano monitorará mudanças na política e reagirá, se necessário, ao impacto nos dados.
Isso não quer dizer que as políticas de Trump não afetarão a política monetária do Fed, mas sim que o órgão aguardará para ver o resultado das mudanças.
Porém, o presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker, alertou que um possível estímulo fiscal sob a administração de Trump poderia fazer o Fed elevar as taxas de juros antes do que se imagina.
"Se uma postura mais estimulante no âmbito fiscal se materializar, haveria mais fundamento para elevar as taxas", disse ele na segunda-feira.
"De forma geral, fazer política monetária com uma perspectiva de maior estímulo fiscal normalmente gera maiores taxas de juros", explicou.
Yellen dará indícios sobre o aumento das taxas em dezembro?
Um grupo de presidentes do Fed já comentou sobre a possibilidade de elevação das taxas na reunião de 13 e 14 de dezembro, com os mercados estabelecendo as chances em 85,8%, de acordo com o Monitor das taxas de juros do Fed.
Na decisão de 2 de novembro, dois dos 10 presidentes com direito a voto, Mester e o presidente do Fed de Kansas, Esther George, divergiram com base na preferência por um aumento de 25 pontos-base, de 0,5% a 0,75%, e provavelmente, segundo o mercado, manterão sua postura.
O presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, divergiu na reunião anterior, votando por uma elevação de mesmo valor, mas mudou de ideia na reunião de novembro e apoio a decisão de manter a taxa.
Ele explicou, na última terça-feira, que sua decisão se deu ao fato de que as mudanças na declaração do Fed "estavam bem alinhadas com a noção (e a percepção do mercado) de uma alta probabilidade de aperto em dezembro."
"Em não ahvendo notícias econômicas negativas importantes no próximo mês, a avaliação do mercado sobre a probabilidade de aperto na política monetária em dezembro parece plausível", explicou Rosengren.
O comandante do Fed de Nova Iorque, William Dudley, membro com direito a voto, considerado o mais alinhado ao pensamento de Yellen, já comentou anteriormente, na reunião de novembro, que a economia estava "razoavelmente perto" das metas do Fed de 2% de inflação e emprego sustentável máximo.
"Se a economia permanecer na mesma trajetória, acho que veremos um aumento nas taxas de juros ainda este ano", disse ele.
Fischer, o vice do Fed, disse somente na última sexta-feira que "a chance de remover o ajuste gradualmente é bem sólida", sugerindo que o Fed estaria preparado para atuar.
Kaplan, que participará do comitê votante em 2017, disse na última segunda-feira que é "apropriado" para o Fed elevar as taxas de juros em um futuro próximo.
"Acho que vocês verão uma remoção na acomodação no futuro próximo", comentou ele.
Somente uma surpresa negativa "bem grande" impediria o banco central de elevar as taxas de juros em dezembro, considerando-se os dados econômicos mais sólidos desde junho, disse o líder do Fed de Chicago, Charles Evans, na semana passada.
"Seria necessário algo bem impactante para mudar minha avaliação de que uma elevação em dezembro está alinhada a um caminho superficial", comentou Evans, membro não votante neste ano, mas programado para integrar o comitê votante em 2017.
Bullard, membro com direito a voto, afirmou, na quarta-feira, que dado o estado atual da economia, alguns impactos econômicos seriam necessários para que o Fed continuasse em espera.
"Teria que haver uma surpresa agora", para o Fed não elevar as taxas, disse Bullard a repórteres na conferência bancária do UBS, em Londres, na quarta-feira.
Dado o número considerável de membros do Fed que indicaram que é hora de voltar à normalização da política pela primeira vez em 2016 e somente pela segunda vez após a crise financeira, é improvável que Yellen frustre as expectativas nesta quinta-feira no discurso pré-divulgação ou nos comentários posteriores ao congresso.
Durante a reunião de novembro, o Fed definiu que "o cenário para elevação das taxas dos fundos federais continuou se fortalecendo, mas decidiu, no momento, aguardar mais evidências de progresso frente aos objetivos."
Com isso em mente, Yellen tende a seguir o roteiro já estabelecido por seus colegas do Fed, indicando que o cenário para aumento na taxa de juros se fortaleceu, mas provavelmente exigirá uma postura cautelosa, insistindo que qualquer decisão final de alterar as taxas será baseada nos dados do próximo mês.