Após sair de um quadro crítico de falta de componentes, a situação da indústria de produtos eletroeletrônicos mudou para frustração de vendas, elevação dos estoques, junto com maior ociosidade das fábricas, e menor confiança dos empresários em relação ao desempenho dos negócios neste ano.
Embora ainda existam queixas, os gargalos de produção que frearam o setor nos últimos dois anos, sobretudo as dificuldades no fornecimento de peças, estão ficando para trás, representando hoje um menor entrave à produção. Porém, há um novo problema agora: a desaceleração do consumo.
A última sondagem da Abinee, associação que representa fábricas de aparelhos como celulares, notebooks e tevês, mostra que o porcentual de empresas do setor com negócios abaixo das expectativas (67% em abril) é o maior em três anos. Com isso, a ociosidade nas fábricas, que estava em 22% em outubro, chegou a 27%. É o menor aproveitamento da capacidade instalada desde agosto de 2020, quando a indústria começava a se reerguer do primeiro choque da pandemia.
O principal motivo não é mais a irregularidade no abastecimento de peças, já que hoje quatro em cada dez fábricas de aparelhos eletroeletrônicos estão, na verdade, com estoques de componentes considerados acima do normal. Ou seja, em geral, as condições de oferta estão melhorando, e tornaram-se raros - apenas 3% das empresas - os casos de fábricas obrigadas a interromper parte da produção por insuficiência de componentes eletrônicos.
No entanto, faltam consumidores. Segundo o levantamento da Abinee, as vendas de abril caíram na comparação com o mesmo mês do ano passado em mais da metade dos fabricantes: 52%. Despencou, de 72% em fevereiro para 53% em abril, a parcela de empresas que preveem crescimento das vendas em 2023 frente a 2022.
Além do aumento dos juros, as incertezas relacionadas à política econômica do governo que assumiu em janeiro, sobretudo na gestão fiscal, são apontadas como preocupações que vêm limitando os investimentos no setor.