Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) -A abordagem proativa da política monetária no Brasil foi oportuna e tem dado resultado, mas o processo está agora em uma fase na qual a redução da inflação é mais lenta, disse nesta quarta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltando que o Brasil enfrenta desafios para consolidar a desinflação.
Em apresentação por videoconferência na Conferência Anual do Banco Central, ele enfatizou que as expectativas de inflação para 2024 e 2025, que estavam estáveis, mostram desancoragem, com questionamentos sobre possível mudança nas metas de inflação e incertezas fiscais.
Campos Neto afirmou que os núcleos de inflação -- que desconsideram itens voláteis -- estão mais resilientes por conta de uma difusão da alta de preços entre os setores da economia e pressões ainda fortes em componentes mais rígidos, como o setor de serviços.
"Assim, a velocidade da desinflação tende a ser mais lenta nessa segunda etapa, tanto no Brasil como nos demais países", disse. "Embora tenhamos progredido até agora, ainda enfrentamos desafios para consolidar a desinflação no Brasil."
De acordo com o boletim Focus do BC, que capta as projeções de mercado para indicadores econômicos, as expectativas de inflação estão em 6,03% para este ano, 4,15% em 2024 e 4% em 2025.
As metas estabelecidas são de 3,25% neste ano e 3% em 2024 e 2025, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos em todos os casos.
Em meio a críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à taxa básica de juros praticada pelo BC para segurar a inflação, atualmente em 13,75% ao ano, o governo passou a estudar possíveis alterações no regime de metas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já sinalizou ser favorável a um alongamento do horizonte para as metas, o que desobrigaria o BC a cumpri-las ao fim de cada ano.
"Decisões que induzam a reancoragem das expectativas e que elevem a confiança nas metas de inflação contribuem para um processo de inflacionário mais célere e menos custoso", afirmou Campos Neto.
O presidente do BC voltou a afirmar que o arcabouço fiscal proposto pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ajudar na missão de reancorar as expectativas, embora não haja uma relação direta entre a proposta fiscal e o nível de preços no país.
Na apresentação, Campos Neto afirmou que incidentes em bancos nos Estados Unidos e na Europa despertaram atenção para riscos, como o de contágio mais disseminado no sistema financeiro. Segundo ele, até o momento, esse contágio é limitado, mas requer monitoramento.
(Edição de Eduardo Simões e Pedro Fonseca)