Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) -O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou nesta quinta-feira que a atuação da autoridade monetária poderá mudar caso surjam novas informações que impliquem uma percepção de piora fiscal.
Em entrevista após a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, Campos Neto também afirmou que o BC não comunica e não sabe qual será a taxa terminal para a Selic, ressaltando que o atual cenário poderá demandar um ciclo mais longo de aperto monetário.
“Se tiver novas notícias que levem à interpretação de nova piora no fiscal, isso não faz parte do nosso cenário central”, disse.
Campos Neto afirmou que a aprovação da PEC dos Precatório é uma página virada no cenário fiscal, ponderando que não cabe à autoridade monetária avaliar se a medida foi boa ou ruim.
Ele voltou a dizer, no entanto, que a percepção do mercado sobre o fiscal pesou na decisão do BC de intensificar o ciclo de aperto monetário.
“Temos visto números fiscais melhores na margem, mas nossa leitura da reação do mercado nos leva a crer que houve percepção de desarranjo ou questionamento nas mudanças recentes”, afirmou.
FUTURO DA SELIC
Na entrevista, Campos Neto ressaltou que a comunicação do BC mudou para indicar intenção de buscar a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui os anos de 2022 e 2023, e frisou que o atual cenário poderá demandar um ciclo mais longo de aperto monetário.
"É importante avançar em processo de normalização e vamos perseguir a meta até as expectativas ficarem ancoradas", disse.
As afirmações estão em linha com a ata da última reunião do Copom, interpretada pelo mercado como uma indicação de que o BC manterá os juros em patamar alto por mais tempo para debelar a inflação e ancorar as expectativas para os próximos anos.
O presidente do Bacen afirmou ainda que não há a intenção de estabelecer metas para o desempenho do emprego e da atividade econômica. Para ele, o combate à inflação já traz efeito positivo para esses elementos.
No Relatório Trimestral de Inflação, o BC passou a considerar o juro real neutro no país --que não estimula nem contrai a economia-- em 3,5%, contra 3,0% da projeção anterior.
Campos Neto afirmou que a mudança não altera de forma relevante o trabalho do órgão no curto prazo. Segundo ele, o Banco Central trabalha com o cenário base de taxa de juros neutra, mas também tem uma gama de cenários alternativos.
(Por Bernardo Caram; edição de Isabel Versiani)