O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central julgou que, a despeito do encaminhamento positivo da inflação, há alguns aspectos na dinâmica de preços recente que "requerem maior escrutínio" da instituição. A análise foi feita na ata do Copom, divulgada nesta terça-feira, 6, e que traz também a avaliação de que a dinâmica desinflacionária não divergiu de forma significativa do que era esperado, já que prossegue em evolução benigna.
O colegiado comentou, porém, que, conforme há avanços nessa tendência, esgotam-se algumas fontes que contribuíram para o primeiro estágio da desinflação.
Sobre a necessidade de escrutínio, o documento relata que o comitê debateu, em particular, a recente dinâmica da inflação de serviços, com foco nos seus componentes subjacentes, e os cenários prospectivos.
"Alguns membros destacaram a importância de se compreender as contribuições relativas, para a desinflação recente em serviços, do aperto monetário vigente e de um potencial transbordamento das desinflações verificadas em alimentos e bens industriais" descreve a ata.
O colegiado salientou também que a evolução prospectiva do hiato do produto e o comportamento do mercado de trabalho foram considerados, novamente, muito relevantes para determinar a velocidade com que a inflação atingirá a meta.
"Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra", pontuam os membros do Copom.
Em contraposição, o colegiado menciona que uma recomposição favorável de preços relativos, uma dinâmica benigna de commodities ou uma menor inflação de serviços poderiam potencialmente contribuir para um processo desinflacionário mais célere. "Em sua conclusão, o Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação não se alterou."
A ata lembra que o comitê já incorpora nas suas projeções uma elevação de preços em função do fenômeno do El Niño e monitora os impactos da reversão do fenômeno. O documento mostra também que o grupo concluiu unanimemente pela necessidade de uma política monetária "contracionista e cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária".
No parágrafo 9, o colegiado volta a falar sobre o mercado de trabalho, notando que este segue dinâmico. Mesmo assim, o comitê manteve a avaliação de que a ampliação de ganhos reais pode ainda refletir questões temporárias. "O Comitê ressalta que é importante seguir monitorando com bastante atenção as diferentes variáveis do mercado de trabalho, em particular com um acompanhamento minucioso da dinâmica dos rendimentos reais, que apresentaram maior crescimento nos últimos meses", traz a ata.
O comitê também discutiu, em maior profundidade, a relação entre o mercado de trabalho e os preços na economia, de acordo com o documento.
"Destacou-se a causalidade recíproca entre os preços e a dinâmica de rendimentos, suas respectivas defasagens e as elasticidades de impacto de um sobre outro", citaram os membros da cúpula.
O comitê repetiu na ata que seguirá atento à dinâmica dos rendimentos nas diversas pesquisas para melhor avaliar o grau de ociosidade no mercado de trabalho e seus potenciais impactos sobre a inflação de serviços.
Atividade
Após novo corte na Selic, de 11,75% para 11,25% ao ano, a ata do último encontro do Copom do Banco Central destacou que o cenário da instituição segue sendo de desaceleração gradual da atividade econômica.
O colegiado também manteve a expectativa de resiliência no consumo das famílias e menos dinamismo na formação bruta de capital fixo.
"Em suma, os dados de atividade divulgados desde a última reunião corroboram o cenário delineado pelo Copom e não houve alteração substancial sobre o cenário de crescimento", enfatizou o documento.
Ainda assim, a ata revela que, na reunião da semana passada, o colegiado avaliou elementos que poderiam levar a uma atenuação dessa desaceleração econômica. Entre eles, estaria o aumento da renda das famílias, como reflexo da elevação do salário-mínimo, de benefícios sociais e do mercado de trabalho mais resiliente.
"Mencionou-se que alguns indicadores de alta frequência permitiriam uma leitura que corroboraria esse argumento", citou a ata.
Crédito
O documento do BC também destacou que, apesar das condições restritivas impostas pela taxa Selic, já se observa a transmissão do ciclo de afrouxamento monetário para o mercado de crédito. A taxa básica acumula uma queda de 2,5 ponto porcentual desde agosto do ano passado.
"Observam-se sinais de maior concessão de crédito em algumas linhas e redução das taxas de juros correntes de novas concessões, auxiliados também por incipiente aumento do apetite na oferta de crédito em certas linhas por parte das instituições financeiras. Nota-se também um maior dinamismo no mercado de capitais desde a última reunião", citou o documento.