Por Marion Giraldo
(Reuters) - O Brasil sofrerá queda menos acentuada em sua economia em 2020, de 5,8%, diferença significativa em relação à estimativa de junho, de contração de 9,1%, conforme estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), que divulgou nesta terça-feira uma série de projeções para a atividade global.
A expansão no próximo ano no Brasil será moderada, de 2,8%, afetada pela menor demanda doméstica que atinge seu amplo setor de serviços.
Tanto a taxa de queda prevista para o Brasil neste ano quanto a de crescimento em 2021 são as mais baixas entre as principais economias da América Latina. O FMI ressaltou que os prognósticos assumem que o país obedecerá à sua regra de teto de gastos, que limita o crescimento das despesas públicas.
Em junho, quando o FMI estimou um tombo de 9,1% para o Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, previu que o Fundo erraria a projeção, argumentando que, quando há a ocorrência de um baque na magnitude como o do coronavírus, modelos utilizados para calcular projeções tendem a falhar.
A estimativa oficial do Ministério da Economia é de queda de 4,7% no PIB neste ano, com crescimento de 3,2% no ano seguinte.
Os novos números para o Brasil já haviam sido noticiados há uma semana em documento https://www.imf.org/en/News/Articles/2020/10/05/mcs100520-brazil-staff-concluding-statement-of-the-2020-article-iv-mission do FMI que descreveu as conclusões preliminares de uma recente visita de uma equipe do Fundo ao país.
Nesse texto, o FMI alertou para riscos negativos "significativos" ao país, que incluem uma segunda onda da pandemia, "cicatrizes de longo prazo" de uma longa recessão e choques na confiança devido à enorme dívida pública do país.
AMÉRICA LATINA
As economias latino-americanas sofrerão sua maior contração desde pelo menos 1960 devido à pandemia, segundo projeção do FMI divulgada nesta terça-feira, e a retomada em 2021 dependerá em grande parte da capacidade dos governos de controlar a crise de saúde e os riscos sociais.
Em seu relatório Perspectivas Econômicas Globais de outubro, o FMI antecipou uma contração da economia latino-americana de 8,1%, menos profunda do que os 9,2% previstos em junho, mas moderou ligeiramente sua projeção de expansão para o próximo ano a 3,6%.
A queda deste ano superará em muito a retração de 2,5% em 1983, em meio à crise da dívida externa, e a de 1,9% do desastre financeiro do final da década passada, segundo série do Banco Mundial que tem início em 1960.
As projeções, embora suponham perdas exorbitantes de produção, têm se moderado para a América Latina devido à recuperação acelerada de seus dois principais parceiros comerciais, China e Estados Unidos, no último trimestre.
"Países menores e economias dependentes de matérias-primas e turismo estão em uma posição particularmente difícil", disse o FMI em comunicado, chamando a atenção para o cenário complexo para as nações caribenhas e a indústria de transporte aéreo.
O FMI amenizou as perspectivas de crise para as maiores economias da região, especialmente em países que não foram rigorosos na contenção do vírus. Apesar dos alertas sobre a necessidade de medidas abrangentes para controlar a epidemia, as projeções apontam avanços nas economias que tiveram menos paralisações.
O México, que depende fortemente do comércio com os Estados Unidos e inaugurou um novo tratado em julho com seus vizinhos norte-americanos, terá uma queda de 9% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, uma melhora de 1,5 ponto percentual em relação à previsão anterior. Para 2021, o Fundo espera expansão de 3,5%.
EXTREMA POBREZA E DISPARIDADE
O relatório destacou que a China --importante fonte de receita da região pelo alto consumo de matérias-primas-- se prepara para fechar o ano com ligeira expansão, retomando também a demanda por exportações. Brasil, Peru, Chile e, em certa medida, México, serão beneficiados.
Embora o FMI tenha moderado as perspectivas de recessão para o Chile e o Peru em 2020, à medida que a atividade de mineração foi retomada e os preços dos metais industriais aumentaram, a instituição insistiu que as perspectivas para a América do Sul permanecem complexas, dada a prevalência de casos de coronavírus.
A Argentina, que tomou medidas rígidas para controlar o avanço da pandemia e busca se preparar para o desconfinamento, verá um colapso de 11,8% de sua economia em 2020 e crescerá 4,9% em 2021, projeta o Fundo, refletindo o golpe de fechamentos em um país que há anos se arrasta em crise fiscal.
Embora não se refira especificamente a nenhum país, o FMI alertou em seu relatório que a Covid-19 reverterá o progresso que o mundo fez desde a década de 1990 na redução da pobreza e da desigualdade.
A economia mundial vai encolher 4,4% neste ano, muito menos do que se temia no auge da pandemia, mas as disparidades na retomada serão acentuadas nas nações com maior vulnerabilidade social, incluindo as economias emergentes, enfatizou o Fundo.
"Cerca de 90 milhões de pessoas podem ficar abaixo do limite de renda de 1,90 dólar neste ano, o que constitui escassez extrema", destacou o FMI, citando dados fornecidos pelo Banco Mundial.
(Reportagem adicional de Isabel Versiani)