Agência Brasil - A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentou hoje (10), durante seminário em São Paulo, três cenários para o futuro da motorização dos veículos nos próximos 15 anos, com base na realidade brasileira.
O primeiro, chamado de Inercial, mostra a transformação dos veículos no ritmo atual, sem metas estabelecidas, nem organização dos setores envolvidos tanto no transporte quanto na geração de energia, além da ausência de políticas públicas de incentivo da eletrificação dos automóveis.
O segundo, batizado de Convergência Global, seria o mais acelerado para acompanhar os movimentos já existentes nos países mais desenvolvidos. O terceiro é o Protagonismo de Biocombustíveis, um caminho que privilegiaria combustíveis verdes, mas com um grau de eletrificação semelhante ao do cenário Inercial.
“Ultimamente, temos observado eventos climáticos extremos, como enchentes na Europa e na China, incêndios devastadores no Mediterrâneo e nos Estados Unidos, seca e geadas no Brasil, além de temperaturas aumentando em escala global. O tema ficou ainda mais em pauta com a divulgação, feita ontem pela ONU (Organização das Nações Unidas), do relatório IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), com a estimativa de que o limite de +1,5° C de aquecimento global em relação ao período pré-industrial será alcançado em 2030, dez anos antes do previsto, com efeitos climáticos sem precedentes”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
Segundo ele, a entidade lidera esse debate, que classificou como fundamental e inadiável, para que a indústria automotiva saiba como direcionar seus investimentos para as próximas gerações de veículos e para inserir o Brasil nas estratégias globais de motorização com foco total na descarbonização.
Grau de eletrificação
De acordo com a Anfavea, é preciso saber quais rotas tecnológicas e energéticas deverão ser seguidas, qual será o grau de eletrificação da frota, o papel dos biocombustíveis e como os setores público e privado precisam agir hoje para garantir a inserção do Brasil no setor automotivo global, tendo em vista os debates e os reflexos da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP-26), que será realizada em novembro em Glasgow, na Escócia.
Durante o seminário O Caminho da Descarbonização do Setor Automotivo, representantes da Anfavea apontaram conclusões para conduzir o debate sobre o tema, que, em sua avaliação, deve ser urgente. A primeira foi a de que mesmo em um cenário mais conservador, o mercado brasileiro demandará milhões de unidades de veículos eletrificados até a metade da próxima década, podendo chegar a 432 mil veículos leves por ano em 2030 e 1,3 milhão ao ano em 2035.
“A indústria precisará entrar em um novo ciclo de investimentos para se manter competitiva, e, ao mesmo tempo, garantir 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos na cadeia automotiva. Serão necessários altíssimos investimentos em toda a cadeia para que o Brasil abasteça seu mercado local e se consolide como um polo exportador”, disse o estudo da Anfavea.
Para a entidade é necessário que o poder público brasileiro estabeleça políticas para acelerar os cenários de descarbonização, como já ocorre em outros países, principalmente da Europa. “É possível estimular o consumo de carros mais limpos com medidas como menor tributação, ou imposto verde, descontos ou isenções em recarga, pedágio, zona azul, rodízio e financiamentos com métrica de dados ambientais, sociais e de governança das empresas”.
A Anfavea citou, ainda, os reflexos que uma atualização da frota deve ter nos combustíveis, já que, com a maior parte dos veículos (8)%) ainda flex e os caminhões e ônibus (90%) a diesel em 2035, a demanda por esses combustíveis deverá ser maior, exigindo investimentos altos da indústria produtora de etanol, gasolina, diesel e biodiesel.
Ainda no item investimentos, a entidade destacou a necessidade de instalação de ao menos 150 mil carregadores para atender os veículos eletrificados, o que implica num investimento de aproximadamente R$ 14 bilhões, além de gastos em geração e distribuição de energia de fontes limpas para suprir a frota de elétricos.
Veículos eletrificados
De acordo com o estudo, feito em conjunto com Boston Consulting Group (BCG), com uma política pública industrial adequada e bem planejada, se poderá promover um novo ciclo de investimentos nos próximos 15 anos superior a R$ 150 bilhões.
“Outros países já definiram suas metas de descarbonização, bem como os caminhos para se chegar a elas. O Brasil, em seu papel de um dos principais mercados para o setor de transporte no mundo, não pode mais perder tempo”, afirmou Moraes.
Segundo o presidente da Anfavea, o momento é de união de todos os setores envolvidos com a cadeia de transporte terrestre do país e poder público para definir as metas neste sentido.
“É hora de unir esforços, respeitando as vocações de nossa indústria e as particularidades do nosso país continente. Só com essas definições de metas é que os investimentos corretos poderão ser feitos, colocando o Brasil em um caminho global que não tem mais volta, que é o da redução das emissões dos gases de efeito estufa. Temos essa obrigação para com as futuras gerações”, concluiu Moraes.