Por Tom Arnold e Elizabeth Howcroft
LONDRES (Reuters) - Dinheiro de helicópteros, crises climáticas, cidades inteligentes e economia espacial --os investidores têm todas essas possibilidades pela frente ao entrarem na terceira década do século 21.
Eles entram na nova década com uma primavera em seu caminho, depois de assistirem aos mercados globais de ações somarem mais de 25 trilhões de dólares em valor nos últimos dez anos e um rali na renda fixa colocar abaixo de zero o rendimento de títulos que somam o equivalente a 13 trilhões de dólares.
Eles também viram empresas de internet transformarem a maneira como os humanos trabalham, compram e relaxam. Agora, os investidores estão se posicionando para os próximos dez anos da revolução tecnológica.
Poderíamos ver uma repetição dos anos 1920, com anos de prosperidade, inovação tecnológica e desenvolvimentos sociais, como o direito ao voto ganho pelas mulheres?
Possivelmente. Mas há inquietação, juntamente com toda a euforia. O atual ciclo econômico já é o mais longo da história dos EUA e uma recessão parece inevitável na nova década --que também marcará 100 anos desde o colapso de Wall Street em 1929.
Veja um gráfico sobre crescimento da economia dos EUA: https://tmsnrt.rs/2SppUQr
E as soluções podem precisar ser não convencionais, ainda mais do que as políticas extraordinárias de taxas de juros negativas e compra de títulos que acalmaram o pânico pós-2008.
Com essas políticas no limite, "na década de 2020 parece inevitável que um mundo de dinheiro de helicópteros nos aguarde", prevê o Deutsche Bank.
Isso exigiria que bancos centrais ou governos dessem aos cidadãos grandes quantias de dinheiro, como se elas fossem atiradas de helicópteros, uma estratégia rejeitada mesmo pelos formuladores de políticas não ortodoxos da década de 2010.
Outra opção radical em discussão é a moderna teoria monetária, quando os governos criam e gastam tanto dinheiro quanto necessário, desde que a inflação permaneça baixa.
"Os bancos centrais têm convidado efetivamente os governos a experimentar mais políticas não convencionais", disse o Deutsche. No entanto, essas políticas podem elevar ainda mais a dívida global, já em níveis recordes.
Veja um gráfico sobre dívida dos EUA: https://tmsnrt.rs/2ZkCaDg
Então, o que os mercados vão fazer?
Uma década de taxas de juros baixíssimas não reviveu o crescimento e a inflação nos países desenvolvidos, mas certamente inflou os mercados, como mostram os preços de títulos, ações e imóveis.
A desigualdade que eles geraram também desencadeou uma reação generalizada contra a globalização. O resultado é um mundo em "desglobalização" ou, como coloca o Morgan Stanley (NYSE:MS), "lenta balização".
O banco espera que os investimentos em tecnologia se destaquem, em particular empresas menores de internet na China, à medida que o protecionismo fere os rivais maiores.
Mas o Morgan prevê retornos menos empolgantes --"uma fronteira mais baixa e mais plana em comparação às décadas anteriores e especialmente em comparação aos dez anos pós-CFG (crise financeira global)".
AQUECIMENTO GLOBAL, ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO
Enquanto os retornos dos mercados diminuem, o planeta continuará a esquentar. Prevê-se que as emissões de carbono, as temperaturas, níveis do mar e, portanto, a pobreza e a imigração induzidas pelo clima aumentem.
Isso deve levar cada vez mais os gestores de ativos a buscar alternativas aos poluentes, especialmente o carvão, cuja utilização deve cessar nos países da OCDE até 2030 para que o Acordo de Paris seja cumprido.
O BofA espera que as empresas de energia limpa e veículos elétricos surjam como vencedores, estimando que o mercado de energia limpa já valha 300 bilhões de dólares.
As populações em envelhecimento são outro desafio, tornando a demografia um critério-chave de investimento. O Deutsche Bank nomeia Irlanda, Ruanda, Gana, Botsuana e Laos como um dos 22 países na fila para um "dividendo demográfico", beneficiando-se do crescimento da população em idade ativa.
O banco também tem visão construtiva sobre setores como o de comércio eletrônico, com a Geração Z --aqueles que terão entre 20 e 30 anos até 2030-- exercendo um poder de compra crescente.
Veja um gráfico sobre economia da China: https://tmsnrt.rs/2ED5JaJ
Mas em alguns países os mais velhos gastadores ainda terão influência. Até 2030, as pessoas com mais de 80 anos representarão 5,4% da população dos EUA, acima dos 3,7% em 2015, impulsionando a demanda por lares de idosos, cuidados de saúde e inovações para prolongar a vida.
"A imortalidade pode ser o tema secular mais interessante da década de 2020", prevê o BofA.
PONTOS DE INFLEXÃO NA TECNOLOGIA
Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial em 2017 previu uma série de "pontos de inflexão tecnológica" para a próxima década. Eles incluíam carros impressos em 3D, veículos sem motorista e a primeira máquina de inteligência artificial do conselho de uma empresa.
Veja um gráfico sobre recorde de vendas de robôs: https://tmsnrt.rs/2Ho6NCs
Os anos 2020 poderão ser uma era de cidades inteligentes, onde big data e robótica garantirão melhor governança, saúde e conectividade, prevê o UBS. O banco espera que os gastos anuais para tornar as cidades inteligentes cheguem a 2 trilhões de dólares em 2025 e que os dispositivos conectados à internet se multipliquem mais de quatro vezes, para 46 bilhões.
Para tirar proveito dessas mudanças, os investidores se concentrarão em áreas como veículos autônomos --as remessas de empilhadeiras automatizadas crescerão para 455 mil em 2030 ante 4 mil no próximo ano, disse a ABI Research.
Finalmente, os avanços na tecnologia de foguetes e satélites estão abrindo o acesso ao investimento para a fronteira final. O primeiro ETF (fundo negociado em bolsa) dedicado à indústria espacial foi aberto em 2019.
O UBS vê "paralelos com a forma como a internet global ... abriu vastas oportunidades na virada do século". O banco prevê que a "economia espacial" chegará a 1 trilhão de dólares nas próximas décadas, de 340 bilhões de dólares agora.
O banco tem visão positiva para empresas listadas aeroespaciais, de satélite e de comunicações e para novas startups espaciais nos mercados privados.