(Esclarece a relação do ativista com o grupo Stop the Steal, no 10º parágrafo)
Por Matt Spetalnick e Andrea Shalal e Jeff Mason e Steve Holland
WASHINGTON (Reuters) - Quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez seu discurso de posse em 20 de janeiro de 2017, ele prometeu o fim da "carnificina americana", um país desolado e disfuncional que só ele poderia consertar.
Ao encerrar seu mandato na Presidência quatro anos depois, Trump deixa para trás um país mais polarizado, onde milhares estão morrendo diariamente de Covid-19, a economia está seriamente abalada e a violência política aumentou.
Trump não criou as diferenças amargas que passaram a definir a vida norte-americana. Ainda assim, ele aproveitou muitas delas como ferramentas para construir sua base de poder, prometendo erguer os EUA ruralista e a classe trabalhadora em geral que ele disse ter sido negligenciada pelo establishment de Washington.
Quando milhares de seus seguidores raivosos --a grande maioria deles brancos-- marcharam até o Capitólio em 6 de janeiro, eles se uniram por falsas alegações de Trump de uma eleição roubada. O motim que se seguiu deixou um policial e quatro outras pessoas mortas, dezenas de feridos e uma nação abalada.
Uma grande parte de seu legado, quando ele deixar a Casa Branca na quarta-feira, provavelmente será de norte-americanos mais distantes política e culturalmente uns dos outros do que quando ele assumiu o cargo.
No cerne dessa divisão, dizem os oponentes de Trump, está a raça. No começo de seu mandato, ele inicialmente resistiu a criticar os nacionalistas brancos depois de um protesto mortal em 2017 em Charlottesville, na Virgínia, alimentando a percepção de que simpatizava com a causa deles. Sua retórica severa muitas vezes piorava as crises raciais que eclodiam por conta da morte de negros pela polícia.
“Infelizmente, ele é o resultado natural da história de dividir e conquistar”, nas relações raciais norte-americanas, disse o reverendo William Barber, proeminente ativista dos direitos civis e copresidente da Campanha do Povo Pobre, um movimento antipobreza e antirracismo que Martin Luther King ajudou a organizar na década de 1960.
Trump negou repetidamente qualquer animosidade racista.
Seus apoiadores ferrenhos argumentam que ele serviu como corretivo para as administrações anteriores de ambos os partidos que desapontaram os pobres, a classe trabalhadora e as regiões rurais, que tiveram dificuldades nas últimas décadas. Essa base de apoio continua grande --outro provável legado da era Trump.
Alex Bruesewitz, associado ao Stop the Steal (Pare o Roubo, numa tradução livre), grupo pró-Trump que protesta contra os resultados da eleição, disse que o presidente mantém seu apelo aos eleitores da classe trabalhadora.
“Eles se sentiam como os homens e mulheres esquecidos. E o presidente disse: ‘Você não está mais esquecido’”, declarou Bruesewitz.
A recusa de Trump em reconhecer a derrota ao democrata Joe Biden, e o incentivo a seus apoiadores a irem ao Capitólio, fazem com que seu mandato termine em meio a um turbilhão de inverdades que milhões de republicanos têm levado a sério, criando um grande desafio ao novo governo para ganhar sua confiança.
No exterior, Trump costumava invocar sua agenda “América Primeiro”. Ele desmantelou ou rompeu pactos multilaterais, retirando-se do acordo climático de Paris, que comprometia quase todos os países a reduzir as emissões de gases de efeito estufa; e do acordo nuclear com o Irã, que aliviou sanções em troca de restrições ao programa nuclear iraniano.
Seu governo minou alianças fundamentais, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), antagonizou parceiros tradicionais e se aproximou de autocratas como o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong Un.
(Reportagem adicional de Alexandra Alper)